segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Livro: A CIÊNCIA SAGRADA DOS INCAS

SUGESTÃO DE PRESENTE DE NATAL: LIVRO "A CIÊNCIA SAGRADA DOS INCAS"
A Ciência Sagrada dos Incas apresenta o paradigma “científico” ameríndio da região da Cordilheira dos Andes. Uma concepção que não distingue ciência e religião, dando ao saber um caráter sagrado e mágico, transcendente e prático, antigo e atual, simples e profundo. Com uma abordagem transdiciplinar, a obra percorre e interconecta diversas áreas de conhecimento como antropologia, história, mitologia, arqueoastronomia, arquitetura e geometria sagrada, geobiologia e outras, oferecendo lições e exemplos sobre ecologia profunda e integral, ética ecológica, permacultura, bio-construção e espiritualidade.

Preço do livro: R$30,00
PROMOÇÃO DE NATAL: Dois exemplares por R$50,00 (para compra junto ao autor)

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

NOVEMBRO ABENÇOADO

Escrevo hoje no blog para agradecer por esse abençoado mês de novembro, repleto de encontros, amizades e aprendizagens! Vale a pena destacar a vivência do último sábado, quando pudemos trazer à consciência nossa relação com o Reino Animal, com o propósito de honrar e respeitar essa conexão. Mas, pricipalmente, o mês foi marcado pelo Encontro Raíces de la Tierra no Chile, onde fomos, eu e minha companheira, a Dani, presenteados com tantos ensinamentos, medicinas, amizades e amor. Durante quatro dias estivemos reunidos, junto com mais de 2.000 pessoas, em uma propriedade rural em Casa Blanca, com Abuelitas e Abuelitos, guardiões de diferentes Tradições Nativas de todo nosso continente de Abya Yala. Havia gente da Califórnia, México, Maias da Guatemala, da Serra Nevada de Santa Marta e da amazônia colombiana, Cofanes do Equador, Shipibo da amazônia peruana, Aymaras da Bolívia e do Chile, Collas chilenos, uma simpática abuelita da Ilha de Páscoa, representantes brasileiros da doutrina do Santo Daime e os valorosos Mapuche da Patagônia! Gracias ao Grande Espírito por haver nos proporcionado essa oportunidade! Sinto que tenho o compromisso de partilhar com outros o que vivemos nesse dias! Somente assim posso honrar as lágrimas de meu irmão do norte que se emocionou ao invocar a Profecia da Águia e do Condor, a aliança do Norte e do Sul em um vôo mágico de Amor e Esperança para os Filhos da Mãe Terra!


Aho Mitakuye Oyasin!


Por Todas as Nossas Relações!


Jallalla!

domingo, 31 de outubro de 2010

LIBERDADE PARA TAITA JUAN

Na terça-feira, 19 de outubro de 2010, foi detido, no aeroporto internacional de Houston-EUA, o curandeiro indígena Colombiano Juan Agreda Chindoy, Taita Juan. Ele foi preso pela Polícia de Fronteiras (I.C.E) por posse de sua medicina ancestral, a Ayahuasca, sendo acusado como um criminoso federal, com risco de ser condenado há 20 anos de prisão. Taita Juan é reconhecido por sua comunidade e pelo Ministério da Saúde da Colômbia como um curandeiro tradicional. Taita Juan é pai, marido e padrinho de mais de 20 crianças. Com mais de 3.000 amigos y beneficiados de sua medicina em vários países do mundo, sua vida e obra alcançaram a muitos.
Nesse momento, há um moviemeto internacional pela libertação de Taita Juan, para conhecer e participar do movimento, acesse o endereço:
http://www.freetaitajuan.org/en-espanol

terça-feira, 19 de outubro de 2010

A CONEXÃO COM O REINO ANIMAL

OS ANIMAIS DE PODER
Sábado, 20 de novembro, em Casa Branca-MG

O propósito dessa vivência é sintonizarmos com a energia, a medicina e a sabedoria do Reino Animal. Os animais simbolizam e expressam aspectos instintivos, profundos e inconscientes de nosso ser.
Nesse dia realizaremos práticas de visualização, meditação e exercícios, fundamentados em tradições ancestrais, que nos colocarão em contato com as poderosas energias do Reino Animal. Abordaremos nossa relação com os bichos e como nos beneficiar dessa relação, A vivência acontecerá em um agradável ambiente, próximo à natureza, em Casa Branca-MG, na região do Parque da Serra do Rola Moça, o endereço será fornecido àqueles que confirmarem sua participação. O horário será de 9 da manhã às 14:30 horas.
Os interessados devem confirmar sua participação até o dia 18 de novembro pelo e-mail espacomaia@yahoo.com.br ou pelos telefones: (31) 3575-3685 ou 9422-9331. O preço da vivência é de R$ 90,00.
Para os que desejarem aproveitar o final de semana no bucólico vilarejo de Casa Branca, podemos indicar algumas boas pousadas.
Nessa prática não usaremos plantas de poder, nem iremos ingerir nenhuma substância psicoativa, para a expansão de consciência serão utilizados instrumentos como o tambor, exercícios corporais e a própria força dos animais. Também não utilizaremos animais físicos, apenas a sua energia.
A condução da vivência ficará a cargo de Ka Ribas que há anos pratica e trabalha com os ensinamentos ancestrais de diferentes culturas ameríndias. Em sua jornada pessoal, Ka recebeu ensinamentos de tradições andino-amazônicas, mexicanas, norte-americanas e de indígenas brasileiros.
Venha descobrir a força e o auxílio desses importantes aliados dos seres humanos, mantendo o respeito e reconhecendo o poder dos animais.

Por Todas as Nossas Relações!

Ka W. Ribas – Educador e Geobiólogo
http://kawribas.blogspot.com/
kawribas@yahoo.com.br

sábado, 2 de outubro de 2010

2 DE OCTUBRE NO SE OLVIDA!

ME – XI – CO
A história secreta da ativação do importante chakra planetário localizado no México.

Ao país das águias sua rainha voltará
O cárcere da lua precisará romper
Guardiões de outros tempos ao seu lado vão vir
E unidos todos juntos a batalha irão dar.

Sonâmbulos ambulantes irão vê-la avançar
E o único desperto sua ajuda pedirá
Os piores e os melhores por ela se unirão
E a água dos céus a todos limpará.

Com toques do passado o presente se fará ouvir
Mas somente no silêncio sua voz se escutará
E em caso de surdez um sacrifício irá fazer
Cuja luz por milênios o caminho iluminará.
Lama Tagdra Rimpoche

Este é um resumo livre do livro Regina – 2 de octubre NO SE OLVIDA de Antônio Velasco Piña, com adição de fatos provenientes de outras fontes, e o objetivo é contar um pouco da história secreta do México, os elementos ocultos por trás de acontecimentos que se estendem desde milênios e chegam até os dias de hoje, e que dizem respeito não somente ao território mexicano mas influem a nível mundial e planetário.
Para tanto, uma conexão entre o passado pré-colombiano, a invasão e conquista espanhola, época colonial, os dramáticos eventos de 1968 e os dias de hoje devem ser estabelecidos.
Da mesma forma, uma correlação entre o México e o Tibet, a América e a Ásia, o planeta e o cosmos devem ser feitos.
Isso porque, nosso planeta, a Mãe Terra, é um ser vivo, e nós, células ou fractais desse grande organismo funcionamos à semelhança dela.
Da mesma forma que precisamos do prana, a energia presente no ar que nos dá alento e vida, e que absorvemos pela respiração, o planeta precisa de “prana cósmico” e também respira.
Em nosso corpo físico são as duas narinas as responsáveis pela entrada do prana. Na Mãe Terra, as duas grandes cadeias de montanha, a Cordilheira do Himalaia no hemisfério norte e a Cordilheira dos Andes no sul, exercem essa função.
Não respiramos todo o dia pelas duas narinas ao mesmo tempo, possuímos uma alternância chamada de respiração solar e lunar, ora respiramos pela narina esquerda e ora pela direita, essa polarização é responsável pela ativação de nossos dois canais energéticos, o pingala e o ida.
Esses canais energéticos, por sua vez, distribuem o prana e junto ao canal central, chamado sushumna, são os responsáveis pela vitalização dos chakras.
Processo análogo ocorre no planeta, só que em um espaço de tempo proporcional à dimensão física da Terra. Assim ao invés de uma polarização de algumas horas no decorrer do dia, a respiração do planeta, por cada uma das cadeias de montanhas de cada hemisfério, sofre uma alternância a cada 2.000 anos mais ou menos.
Nos últimos dois mil anos, esteve ativado o hemisfério norte e o Himalaia, porém, desde meados do século XX, ocorreu a polarização e atualmente são nos Andes que se encontra o principal ponto de absorção de “prana cósmico”.
Porém, nós, como células conscientes, participamos desse processo e temos nossa história e nossas vidas interconectadas a esse evento cósmico.
Assim, o desenvolvimento das civilizações indígenas na América, a invasão do continente pelos europeus, a queda dos Astecas no México e dos Incas nos Andes, a manutenção do culto e reverência da Mãe Terra por meio do sincretismo como na figura da Virgem de Guadalupe, Nossa Senhora de Copacabana, e outras santas e virgens católicas, a invasão do Tibet pela China, a construção do Canal do Panamá, as revoltas dos jovens em todo o mundo no ano de 1968 e a história de uma garota de 20 anos, Regina, a Rainha do México, são peças de um quebra-cabeça de proporções planetárias e cósmicas!
Adiante segue um histórico detalhado dos principais acontecimentos desta história que também é nossa história e da qual devemos participar conscientemente e despertos.

Boa Viagem!
Ka W. Ribas

ME – XI – CO
· 1.700 ou 1.500 a.C – Começa a ocupação Olmeca, primeira grande civilização mexicana, nas regiões de Tabasco e Vera Cruz, no Golfo do México.
· 700 a.C – Os primeiros Maias habitam a península de Yucatán e selvas altas da Guatemala a tradição Maia é a segunda grande civilização mexicana.
· 600 a.C. – Inicia-se o povoamento de Monte Albán, Oaxaca, é o alvorecer da terceira tradição mexicana, a Zapoteca.
· 200 a.C. – Fundação de Teotihuacán, o “lugar onde os homens se transformam em deuses”, cidade sagrada do México central, grande altiplano localizado entre a Serra Madre Ocidental, pelo oeste e Serra Madre Oriental, no leste, extensões naturais das Montanhas Rochosas. A civilização que floresceu em Teotihuacán, próxima aos vulcões Popocatépetl (5.432 m) e Iztaccíhuatl (5.370 m), no coração geográfico do país, foi percussora da tradição Nahuatl ou Tolteca, a quarta grande tradição do México.
· 400 d.C. – Teotihuacán atinge seu apogeu, com uma população estimada de 250.000 habitantes.
· 200 a 900 d.C. – Apogeu da civilização Maia.
· 909 d.C. – Último registro de inscrição do período clássico Maia, as cidades foram sendo pouco a pouco abandonadas e o povo passa a viver em aldeias embrenhadas nas florestas.
· 1.200 d.C. – Chegada dos Mexicas ou Astecas ao vale do México, ali adotam os costumes, a língua e a cultura dos povos Nahuatl / Toltecas.
· 1.325 d.C. – Fundação de Tenochtitlán (atual cidade do México), a capital dos Astecas, em uma ilha do lago Texcoco.
· 1.426 d.C. – Início da expansão Asteca que os levariam a dominar todo o vale do México, inclusive incorporando os territórios das outras grandes tradições mexicanas, os Olmecas, Zapotecas, Toltecas e Maias.
· 1.473 d.C. – Os sacerdotes do deus Huitzilopochtli dominam o templo de Tlatelolco, cidade vizinha de Tenochtitlán e instauram um culto masculino em um importante centro energético feminino (onde mais tarde seria levantada a basílica da Virgem de Guadalupe). Este ato causou um grande desequilíbrio energético no chakra mexicano.
· 1.502 d.C. – Montezuma II se torna rei dos Astecas.
· 1.519 d.C. – Os espanhóis desembarcam em Vera Cruz, cumprindo antigas profecias sobre o retorno de Quezalcoatl, a Serpente Emplumada, o conquistador Hernán Cortés e seus homens são recebidos como deuses. Eles marcham em direção a Tenochtitlán, e são recebidos por Montezuma em seu palácio.
· 1.520 d.C. – Morre Montezuma II e explode a revolta Asteca contra os invasores.
· 1.521 d.C. – Tenochtitlán é dominada e destruída pelos espanhóis, sobre suas ruínas é construída a atual cidade do México.
· 1.525 d.C. – Cuauhtémoc, o último rei Asteca é derrotado em Tlatelolco e executado pelos espanhóis. Início do período colonial no México.
· 12 de dezembro de 1.531 – No cerro de Tepeyac, em Tlatelolco, uma Virgem Maria de pele morena apareceu milagrosamente para o índio Juan Diego e pediu que ali fosse edificado um templo em sua homenagem. Juan Diego então procurou o primeiro bispo do México, o franciscano Frei Juan de Zumárraga com a petição da santa e por diversas vezes o religioso não deu ouvidos ao índio.
Cansado, pela insistente solicitação do índio, o bispo, para dispensá-lo de vez, pediu que este lhe trouxesse uma prova convincente de que dizia a verdade, em caso contrário, que não o molestasse mais.
Dias mais tarde, Juan Diego retornou trazendo como “prova” da Virgem, uma porção de “rosas de castilla”, que não podiam florescer naquela estação do ano, e que ele afirmava lhe haviam sido entregues pela própria Virgem. Na túnica de Juan Diego, feita de fios de magüei, na qual o índio trazia as flores, ficou milagrosamente estampada a imagem da Virgem Maria com seu manto salpicado de estrelas.
A explosão religiosa ocorrida a partir daí foi tamanha que o lugar logo se converteu em importante centro de peregrinação e finalmente, ali, foi levantada, a Basílica da Virgem de Guadalupe (o nome foi uma homenagem à Virgem de Extremadura na Espanha), padroeira do México e de toda a América Latina.
No sincretismo religioso entre o catolicismo e a antiga espiritualidade indígena, a Virgem de Guadalupe tem um claro paralelo com a divindade asteca Tonantzin, a Mãe-Terra.
· 21 de março de 1948 (equinócio de primavera no hemisfério norte e início astrológico da era de aquário) – Ao meio dia em ponto, com o Sol no zênite, na Aldeia de los Reyes, antigo povoado ocupado pela nobreza real asteca e tolteca, próximo aos imponentes vulcões Popocatépetl e Iztaccíhuatl, nascia a primeira filha do casal Richard Teucher (espiritualista alemão) e Citlali Pérez (uma bela jovem mexicana de origem indígena), o nome da criança: Regina, que em latim significa: Rainha.
Quando o pai viu a menina se sentiu aturdido pois esperava um menino, isso porque algum tempo antes, em uma viagem que realizou à Índia, um monge tibetano havia profetizado que o primeiro filho do casal seria um importante avatar! Nesta oportunidade, o monge propôs aos futuros pais que, quando a criança nascesse, ela poderia ser educada no Tibet.
· 1950 – Quando Regina tinha dois anos de idade, seus pais se mudaram para o Tibet e a levaram para se educada por monges nesse país. Quando foram recebidos no Palácio Potala, em Lhassa, pelo jovem Dalai Lama, este se recusou a ser reverenciado pela criança e seus pais, pois, seu primeiro ministro, o monge Tschandzo Tschampa, identificou Regina como sendo uma autêntica Dakini. Como se não bastasse, o Dalai Lama, invertendo o protocolo, foi quem reverenciou a criança.
· Neste mesmo ano, 1950, foi realizado o último festival Kumba Mela nas montanhas do Tibet, com a participação do Dalai Lama e a presença de Regina e seus pais, a partir daquele momento, as sagradas montanhas da Cordilheira do Himalaia entrariam em um longo repouso de 2.000 anos e um fluxo energético, semelhante à ascensão da energia Kundalini, iniciaria seu translado pela “coluna” do planeta, marcada pela presença de cadeias montanhosas, até seu destino final, a Cordilheira dos Andes, na América do Sul, este processo estaria completamente finalizado e a energia devidamente assentada no ano de 2.012.
· O ano de 1950, Ferro-Tigre no calendário tibetano, também marcaria o cumprimento de outras profecias, como a que dizia que o país seria assolado por forças terríveis, com efeito, nesse ano, o Tibet foi controlado pela poderosa China comunista.
O agravamento do conflito político entre a China e o Tibet, levou à fuga do Dalai Lama, junto com inúmeros monges e outras pessoas para a Índia. Nessa fuga foram mortos pelos chineses os pais de Regina.
Regina, ainda criança, passou a viver em companhia do Lama Tagdra Rimpoche.
· Regina viveu até seus 17 anos de idade em uma gruta isolada nas montanhas Tibetanas na fronteira com a China, ali recebeu uma disciplinada e completa instrução espiritual de seu mestre Tagdra Rimpoche.
· Em sua última noite junto a seu mestre na isolada gruta, Tagdra Rimpoche, revelou a Regina coisas importantes sobre seu destino e sobre sua missão como Dakini, algumas informações foram passadas em forma de um enigmático poema-profecia: Ao país das águias sua rainha voltará...”
· Nessa noite, o monge revelou que Regina teria que completar sua instrução na China, junto a um mestre taoísta, especialista em executar instrumentos musicais sagrados, depois ela deveria voltar para seu país onde completaria sua missão.
· No dia seguinte, pela manhã, o exército chinês capturou o Lama e sua discípula, Tagdra Rimpoche foi imediatamente fuzilado e Regina levada prisioneira para um campo de reeducação na China.
· No campo, que ficava em um antigo mosteiro taoísta transformado em prisão, e que Regina logo identificou como um gigantesco e potente instrumento musical, ela logo se destacou e com sua disciplina e empenho passou a ser ajudante do jardineiro, um grande e sábio mestre taoísta que concluiu sua instrução e lhe ensinou a arte de executar os sinos tibetanos e demais instrumentos sagrados, em especial os instrumentos feitos a partir de uma composição de ouro, prata e cobre, conhecida como tumbaga.
· Regina viveu no campo de prisioneiros até seus 19 anos, quando finalmente concluiu sua formação e recebeu autorização das autoridades chinesas para retornar ao México, seu país ao qual ela havia deixado ainda criança.
· Em Hong Kong, Regina embarcou em um navio que praticamente deu a volta ao mundo antes de chegar ao México. Finalmente em seu país, ela desembarcou poucos dias antes do equinócio de primavera do ano de 1968, no porto de Vera Cruz, mesmo lugar por onde chegaram os espanhóis em 1519.
· Uma vez no México, sua intuição a levou até Teotihuacán, no caminho para a cidade sagrada contemplou o casal mais poderoso do México, os vulcões Popocatépetl e Iztaccíhuatl, guardiões ancestrais do país e que concentram toda a força espiritual do chakra mexicano.
· 20 de março de 1968 (véspera do equinócio de primavera) - Regina passou todo o dia em Teotihuacán. Ao anoitecer, iniciou a subida da Pirâmide da Lua, onde em seu topo, quatro homens, os quatro legítimos mexicanos, guardiões das quatro sagradas tradições mexicanas, realizavam uma cerimônia tocando seus instrumentos sagrados: tambores, chocalhos e caracóis.
· Os quatro homens eram:

1- Dom Miguel, guardião da tradição Tolteca, cuja palavra chave é “ousar”.
2- Dom Gabriel, guardião da tradição Maia, cuja palavra chave é “saber”.
3- Dom Rafael, guardião da tradição Zapoteca, cuja palavra chave é “amar”.
4- Dom Uriel, guardião da tradição Olmeca, cuja palavra chave é “mudar”.

· Eles sabiam que nesse dia as conjunções cósmicas eram propícias para realizar essa cerimônia cujo propósito era despertar o país do “cárcere da lua”, um efeito hipnótico gerado pela influência lunar que mantêm os seres humanos como que “adormecidos”. Eles esperavam para esse dia, o retorno do último imperador asteca, Cuauhtémoc. Porém, para surpresa dos quatro guardiões, ao invés da aparição do imperador, eles assistiram, assombrados, chegar, ao topo da pirâmide, a figura de uma bela, jovem e aparentemente frágil moça de 20 anos, era Regina, a Rainha do País das Águias, México.
· Juntos, após a surpresa inicial por descobrirem que a reencarnação de Cuauhtémoc era uma mulher, eles assumiram suas posições, cada um em uma das quatro direções sagradas com Regina ao centro e levaram a cabo a cerimônia que lograria, por seis meses, suprimir o “cárcere da lua”. Neste tempo eles deveriam realizar outras tantas cerimônias cujo propósito final seria despertar o chakra mexicano, ativando energeticamente os vulcões Popocatépetl e Iztaccíhuatl, contribuindo assim para o deslocamento do fluxo energético que vinha do Himalaia e se dirigia para os Andes:

Ao país das águias sua rainha voltará
O cárcere da lua precisará romper
Guardiões de outros tempos ao seu lado vão vir
E unidos todos juntos a batalha irão dar.


· Regina e os quatro guardiões vão para a cidade do México onde iniciam seu trabalho de despertar do país, tarefa que devem executar antes do próximo equinócio, quando voltará o “cárcere da lua”. Para tanto percorrem e purificam rotas sagradas em plena capital mexicana, visitam lugares de poder, e começam a recrutar pessoas para os centros de mexicanidade, cujo propósito é reunir aqueles que queiram se tornar “autênticos mexicanos”.
· O caminho que liga o parque de Chapultepec ao Zócalo (onde ficava a mais sagrada praça cerimonial da antiga capital asteca) foi identificado como a rota sagrada que deveriam seguir junto com 400.000 pessoas, ao chegarem ao Zócalo, deveriam realizar ali a primeira grande cerimônia para despertar o México. No Zócalo, Regina e os guardiões visitaram a Catedral, onde, em uma capela subterrânea havia um altar com uma pedra retirada de um templo tolteca, na qual Regina afirmou ser o coração do país.
· Ainda na Catedral, Regina descobriu que os instrumentos que deveriam soar durante o ritual seriam os enormes sinos e em especial umas “grades” de metal que fecham a passagem ao interior do coro, essas peças haviam sido fabricadas em Macau, na China e trazidas para o México ainda na época da colônia, no século XVIII, eram os instrumentos sagrados de tumbaga, a mescla perfeita de ouro, prata e cobre!
· Maio de 1968 – A ativação energética provocada pela cerimônia na pirâmide da Lua e o despertar de consciências é tamanho com a suspensão do “cárcere da lua”, que, em todo o mundo, e principalmente no meio juvenil, explodem movimentos de contestação e rebeldia, cujo elemento em comum a todos era o desejo de mudanças, um dos mais famosos e importantes foi o “Maio de 68” na França.
· Julho de 1968 - Os guardiões, um novo ajudante, oriundo dos centros de mexicanidade, que Regina chamava de “testemunha”, e até a própria Rainha do México começam e sentir o peso, a dificuldade e o tamanho da tarefa que teriam que realizar para reunir tantas pessoas e ainda por cima em um lugar proibido pelo Estado. O governo mexicano era responsável por um dos mais terríveis sistemas repressivos do mundo na época, isso porque dissimulava seus sofisticados e violentos aparatos de repressão por trás de uma aparente legalidade e legitimidade democrática.
· Nesse momento o inesperado aconteceu, partindo da classe estudantil, explode na cidade do México um forte movimento de contestação e repúdio ao governo, ao sistema político e a tudo que soasse autoritário no país. O governo mexicano, temeroso que essa revolta dos estudantes pudesse manchar a reputação do país, que receberia em breve os Jogos Olímpicos, autorizou uma violenta repressão aos estudantes. Porém o resultado foi incendiar de vez o movimento, que a partir de então não parou de crescer e cujo lema era: “Povo, desperta!”.
· 27 de julho de 1968 - O episódio da violenta invasão por tropas do exército à Universidade Autônoma do México – UNAM (cujo brasão ostenta uma águia e um condor abraçando com suas asas toda a América), com a morte de vários estudantes pela brutalidade dos militares, foi um dos episódios mais dramáticos do levante e gerou tamanha comoção que o reitor da instituição, o engenheiro Javier Barros Sierra convocou um ato de repúdio para o dia seguinte e uma grande manifestação que partiria da cidade universitária e chegaria até o Zócalo!
· Durante a grande manifestação, na qual o próprio reitor encabeçou pessoalmente, Regina e os membros dos centros de mexicanidade, se incorporaram à passeata. Atônitas e mal acreditando no que vêem, as pessoas assistem ao enorme desfile e admiram a jovem que parece liderar uma ala da passeata. Tudo corre bem até que vários agentes infiltrados do governo, assassinos e delinqüentes misturados à multidão resolvem agir e iniciar dentro do próprio movimento um tumulto que daria fim à manifestação. Quando iniciaram sua ação, foram impedidos pela intervenção de Regina, cuja força e magnetismo do olhar até fez vários agentes “mudarem” de lado e, juntos aos demais manifestantes, passam a integrar de fato à marcha.
· Para reorganizar a multidão, em um determinado momento da passeata, o reitor da UNAM pede ajuda à Regina. No meio da manifestação desaba uma tempestade. A água da chuva molha a todos, lava e purifica a cidade e a rota sagrada que deveriam passar até o Zócalo!

Sonâmbulos ambulantes irão vê-la avançar
E o único desperto sua ajuda pedirá
Os piores e os melhores por ela se unirão
E a água dos céus a todos limpará.


· Cada vez é mais forte o movimento em prol do despertar do México, proporcionalmente aumenta o desespero e aturdimento do governo mexicano que teme até mesmo uma intervenção direta dos EUA, uma vez que a visibilidade gerada pela aproximação das Olimpíadas faz com que todo o mundo tenha os olhos voltados para o país.
· 27 de agosto de 1968, terça-feira – Dia de outra grande manifestação e passeata que partiria do Bosque Chapultepec e chegaria ao Zócalo, percorrendo toda a rota sagrada e energética. No Zócalo, nesse dia, deveriam soar os instrumentos sagrados que despertariam o país, era a 1ª Grande Cerimônia que deveriam levar a cabo Regina e seus companheiros. Para conseguirem o efeito energético desejado, deveriam reunir na praça sagrada 400.000 pessoas!
· A Cerimônia é realizada com sucesso, 500.000 pessoas lotam a grande praça, coração da metrópole! O grande contingente de pessoas, a forte mobilização com o apoio popular ao movimento e a presença da mídia internacional inibem a repressão. Uma vez na praça, Regina e seus companheiros, acompanhados de alguns estudantes, adentram à Catedral e começam a tocar os sinos do templo, a Rainha do México se concentra nas grades de tumbaga que ao vibrarem emitem sons inusitados, alguns somente perceptíveis por sentidos mais sutis. A emoção toma conta da multidão e, após milhares de vozes cantarem juntas o hino nacional mexicano, a noite termina em uma alegre e espontânea festa popular. Todos os presentes partilham o sentimento de que participaram de um acontecimento único e transcendental!

Com toques do passado o presente se fará ouvir
· Regina anuncia uma nova ação: a Segunda Cerimônia a se realizar no Zócalo, novamente 400.000 pessoas, com o incrível desafio de manter toda essa multidão no mais absoluto silêncio!
· 13 de setembro de 1968 - A Grande Marcha do Silêncio! – Data da 2ª Grande Cerimônia para o despertar do México! – Essa manifestação é organizada com um inusitado propósito: como protesto pelo silêncio da mídia frente aos abusos e violência do governo e pela forte repressão, os participantes da marcha teriam suas bocas seladas com fitas adesivas e todos deveriam abster-se de pronunciar qualquer som até chegarem ao Zócalo! Isso veio de encontro à natureza da cerimônia que deveria ser levada a cabo pela Rainha do México!
· Novamente o número de participantes supera o necessário para se efetivar o ritual, nesse dia memorável e histórico, cerca de 700.000 pessoas marcharam no mais absoluto silêncio!
· Ao chegar ao Zócalo, a multidão silenciosa escutou Regina pronunciar por três vezes o sagrado mantra/nome do país: ME – XI – CO !

Mas somente no silêncio sua voz se escutará

· 16 de setembro de 1968 – Aproxima-se o equinócio e as Olimpíadas, o “cárcere da lua” aos poucos retorna, a repressão do governo começa a surtir efeito e o movimento aos poucos perde força. Regina se dá conta que o despertar do chakra mexicano foi parcial pois ela conseguiu “acordar” o Popocatépetl, o vulcão masculino, porém a grande força feminina, o Iztaccíhuatl, permanece em repouso.
· É então que a Rainha do México recebe, de um enxame de abelhas e da rainha da colméia, uma importante revelação: o motivo de seu “fracasso” havia sido o forte desequilíbrio causado pela substituição do culto feminino em Tlatelolco por cultos essencialmente masculinos, isso foi feito por sacerdotes homens na época dos Astecas, no reinado de Axayácatl em 1473. Uma importante personagem desse acontecimento, que se opôs ao domínio masculino, foi uma mulher chamada Citlalmina.
· Para retomar o equilíbrio, será necessário realizar um ritual com o sacrifício de 400 pessoas que se ofereçam em holocausto e que sejam capazes de perdoar seus algozes!

E em caso de surdez um sacrifício irá fazer

· 21 de setembro de 1968 (equinócio de outono no norte) – O “cárcere da lua” volta a hipnotizar e adormecer as pessoas, aos poucos o país retorna à normalidade e o assunto do momento são as Olimpíadas que se aproximam.
· Em uma tentativa de reacender o movimento, os estudantes organizam mais uma manifestação, dessa vez na Praça das Três Culturas em Tlatelolco, próximo à Basílica da Virgem de Guadalupe.
· Regina, os quatro guardiões e a testemunha começam a recrutar, nos Centros de Mexicanidade, os voluntários e aptos para o sacrifício. Apesar da insistência da testemunha, Regina nega que ele participe do holocausto.
· 02 de outubro de 1968 – Dia da manifestação estudantil na Praça das Três Culturas, em Tlatelolco. Paralelo à mobilização dos estudantes, Regina e os mártires se preparam na Basílica da Virgem de Guadalupe para o sacrifício. Com a Rainha do México são 399 pessoas prontas e aptas a doarem suas vidas, falta uma para completar o número necessário!
· Da Basílica, Regina, os quatro guardiões e os demais mártires deslocam-se para a Praça das Três Culturas. Lá chegando, aproximam-se do altar pré-colombiano da praça, que já está lotada com os estudantes que insistem em retomar o movimento.
· Aproxima-se de Regina um maltrapilho garoto de cerca de dez anos, a imagem da desnutrição e do desamparo, um corpo esquelético vestindo trapos. Com um pequeno pedaço de papel ele faz um origami em forma de borboleta e o presenteia a ela. Quando Regina perguntou qual o seu nome, o pobre menino respondeu: Não sei!
· Apesar da falta de uma pessoa para completar as 400 necessárias para o ritual, o grupo de mártires reúne-se no altar de pedras de forma circular. Os estudantes levam a cabo sua manifestação e Regina tenta adverti-los a deixar a praça e do perigo que correm. Súbito, um helicóptero que sobrevoava a praça lança um rojão que a ilumina, produzindo desconforto entre os presentes, em seguida, numerosos sujeitos à paisana começam a disparar armas de fogo de forma indiscriminada, apoiados de imediato pelos soldados que tinham permanecido cercando a única saída possível.
· Nesse momento Regina escuta alguém pronunciar seu antigo nome de outra vida: Citlalmina! Era o garoto sem nome que corria em direção aos mártires e no qual ela identificou como a reencarnação de Tecpatl, o genial artista pré-colombiano, autor das esculturas de Coatlicue e do famoso Calendário Asteca. Regina não tinha necessidade nem tempo de dizer aos outros mártires que seu sacrifício não seria em vão pois com o menino o número de autênticos mexicanos completava 400!
. Com a bandeira do México enrolada em seu corpo, as últimas palavras de Regina foram: ME – XI – CO, que ela conseguiu pronunciar antes que um tiro proveniente do helicóptero ceifasse sua vida. Lentamente foram sucumbindo, vítimas de rajadas de metralhadora, os mártires no altar, entre eles, o pequeno menino. Ao redor uma cena de pesadelo, centenas de jovens sendo covardemente massacrados pelos tiros dos soldados, esse trágico episódio ficou conhecido na história recente do país como o Massacre de Tlatelolco!
· Na verdade, no altar, encontravam-se 401 pessoas, pois contrariando as determinações de Regina, a testemunha os acompanhou para morrer junto aos mártires. Porém, foi o único a milagrosamente sobreviver, e desmaiado e confundido aos mortos, foi jogado em um caminhão do exército e, quando recobrou a consciência, conseguiu resgatar o corpo sem vida de Regina por meio de suborno aos soldados.
· A testemunha levou o corpo da Rainha do México até a Aldeia de los Reyes, ali, junto com alguns concheros, dançarinos astecas membros dos grupos de mexicanidade, depositaram o corpo, à meia noite, em uma caverna nas montanhas.
· No dia seguinte, ao despertar, a testemunha se deparou com um céu claro e aberto, ele olhou para os vulcões, que resplandeciam em sua máxima beleza e poder, constatando que o sacrifício não havia sido em vão, o casal sagrado, Popocatépetl e Iztaccíhuatl estavam “despertos”, o chakra mexicano foi desbloqueado e ativado, o equilíbrio recomposto!

Cuja luz por milênios o caminho iluminará.

· Ao voltar para a cidade do México, ele se deparou com alguns estudantes do movimento que o reconheceram como sobrevivente do Massacre de Tlatelolco e fizeram o sinal de “V” da vitória com as mãos. Eles lhe pediram para sugerir uma frase para um cartaz que denunciaria o massacre, a testemunha então, com um pincel vermelho, cor de sangue, escreveu: Dos de Octubre NO SE OLVIDA - 2 DE OUTUBRO NÃO SE ESQUECE!

Ao país das águias sua rainha voltará
O cárcere da lua precisará romper
Guardiões de outros tempos ao seu lado vão vir
E unidos todos juntos a batalha irão dar.

Sonâmbulos ambulantes irão vê-la avançar
E o único desperto sua ajuda pedirá
Os piores e os melhores por ela se unirão
E a água dos céus a todos limpará.

Com toques do passado o presente se fará ouvir
Mas somente no silêncio sua voz se escutará
E em caso de surdez um sacrifício irá fazer
Cuja luz por milênios o caminho iluminará.

Lama Tagdra Rimpoche

· Após o despertar do chakra mexicano, o fluxo energético retomou seu caminho em direção ao sul, outro bloqueio em seu trajeto apresentou-se no canal construído no Panamá, onde cerimônias ao redor do fogo foram convocadas pelos anciãos maias para desobstruir sua rota.
· 21 de março de 2.008 (um dia após o equinócio de primavera no norte) – 40 anos após o início do movimento de Regina na Pirâmide da Lua em Teotihuacán é convocada a Cerimônia dos 8.000 Tambores por Guardiões da Tradições Ancestrais Mexicanas para efetivar a cura da Mãe Terra e o restabelecimento do equilíbrio energético a nível planetário! Começam as manifestações no Tibet e em todo mundo contra o domínio chinês, país sede das Olimpíadas daquele ano!
· Abril de 2008 – Durante o Festival Ollinkan de Culturas de Resistência, em Tlalpan, México-DF, representantes da Comunidade dos Arturos (agrupamento familiar, na região metropolitana de Belo Horizonte e formado pelos descendentes de africanos remanescentes de quilombo), realizam três apresentações na região metropolitana da cidade do México. A principal manifestação cultural dos Arturos é o congado, onde, nas Festas e ocasiões solenes, tocam seus Tambores Sagrados em louvor de Nossa Senhora do Rosário.
· A terceira e última apresentação dos Arturos, no Bosque de Tlalpan, foi encerrada com a multidão, emocionada pelos toques dos Tambores Sagrados do Congado, gritando “BRASIL”! Junto com a resposta dos brasileiros no palco ao microfone: “MÉXICO”! Após esse momento mágico, os Arturos fizeram questão de visitar a Basílica da Virgem de Guadalupe, onde se emocionaram ao contemplar a imagem da Santa, milagrosamente estampada há mais de quinhentos anos no manto do índio Juan Diego. Para o Brasil, protegida dentro de um tambor, veio uma imagem da Virgem mexicana, que hoje se encontra no altar da capela da Comunidade, em Contagem-MG.
· Janeiro de 2009 – O Fórum Social Mundial da Amazônia, assim chamada aquela edição do evento por acontecer em Belém do Pará, é aberto com uma gigantesca passeata na qual, as pessoas que percorria as ruas do centro da capital paraense, ficaram completamente encharcada por uma tempestade que lavou toda a cidade e a alma daquelas pessoas. Durante o Fórum, foi acendido às margens de um rio por um Sacerdote Maia da Guatemala, um Fogo Sagrado, onde o ancião saudou a Amazônia! Além disso, muitas Cerimônias foram realizadas pelas diferentes tribos e Tradições, dos Quatro Cantos do Mundo!
· Uma antiga profecia indígena mexicana diz que a Cura da Terra estaria bem próxima quando o milho começassem a nascer com as quatros cores desse alimento sagrado: vermelho, amarelo, negro e branco, juntas na mesma espiga. Para alguns, as cores simbolizam os indígenas, asiáticos, africanos e europeus unidos como humanidade!
· 22 de dezembro de 2.012 (solstício de verão no hemisfério sul) - O fluxo energético terá finalmente completado seu trajeto e estará assentado nas sagradas montanhas da Cordilheira do Andes na América do Sul.

2 DE OUTUBRO NÃO SE ESQUECE!

Bibliografia:
PIÑA, Antonio Velasco. Regina – 2 de Octobre no se Olvida. Editorial Jus, México D.F., 1987
Vários. Regina y el Movimiento del 68 – treinta y três años después. Edad, México, 2001
______ Revista Libertárias - Rebeldias. Nº 4, Editora Imaginário, São Paulo, dezembro de 1998.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

CAMINHADA DE PODER NO FERIADO DE 12 DE OUTUBRO

A grande procura de pessoas dispostas a realizar uma caminhada diferente na natureza nos motivou a repetir essa vivência no feriado de 12 de outubro.
Como a que realizamos algumas semanas atrás, será uma caminhada ao topo de uma montanha, em um Lugar de Poder, na região do Parque da Serra do Rola Moça-MG, onde será realizada uma vivência fundamentada em tradições ancestrais.
Os interessados devem confirmar sua participação até o dia 08 de outubro em função do seguro que é feito para todos os participantes da caminhada.
Para os que desejarem emendar o final de semana com o feriado da caminhada, que cai em uma terça-feira, podemos indicar pousadas no bucólico vilarejo de Casa Branca, ponto de partida da caminhada.

Informações e inscrições para a caminhada pelo e-mail: espacomaia@yahoo.com.br ou pelos telefones: (31) 3575-3685 / 9422-9331 / 9692-7070



sábado, 25 de setembro de 2010

EM APOIO AO POVO MAPUCHE

Na heróica trajetória de resistência dos povos originários de Abya Yala (América), a história do povo Mapuche merece destaque.
Seu território, localizado no sul da América do Sul, nunca foi inteiramente conquistado por nenhum povo! Inkas, espanhóis e o Estado chileno, todos tentaram, sem sucesso. Na época dis Inkas, era o limite sul do Tawantinsuyo. Após a invasão dos espanhóis, o território Mapuche seguiu sendo um desafio ao domínio colonial. Com a independência e criação do Estado nacional chileno, a integração, ainda que parcial, dos Mapuche ao Chile se deu muito mais por aculturação que por conquista militar.
Isso não quer dizer que não ocorreram tentativas violentas e sangrentas, que culminaram em massacres e violação dos direitos milenares do povo Mapuche sobre sua Terra.
Recentemente, o Estado chileno lançou nova ofensiva contra os Mapuche, como estratégia de resistência dezenas de Mapuches estão em greve de fome que já dura mais de setenta dias!
Escrevo hoje para me solidarizar com esse povo e expressar meu apoio aos indomáveis Mapuche!

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

EQUINÓCIO DE PRIMAVERA

Chegou a época do florescimento! Dia 23 de setembro é o Equinócio de Primavera, o dia tem a mesma duração que a noite, é época de equilibrar-se e florescer, cantar e celebrar a emoção e o milagre da vida que desabrocha com as flores e em nossos corações!

Há alguns séculos atrás, um poeta asteca assim louvou o florescer da Primavera:

Eu, o cantor, crio um poema
Reluzente como a esmeralda preciosa,
Como uma esmeralda brilhante, resplandecente;
Eu me adapto à modulação
Da voz harmoniosa da flauta...
Como o tilintar das campainhas
O tilintar das campainhas de ouro...
Assim canto eu a minha canção perfumada,
Semelhante a uma jóia reluzente,
A uma turquesa brilhante, a uma esmeralda deslumbrante,
O meu hino florido à Primavera!

Uma dica: receba, na manhã do Equinócio, os primeiros raios do Sol, com o topo da cabeça voltado para o astro-rei, nesse momento invoque o poder do florescimento em sua vida! Trata-se de um momento de muito Poder!


Muita Paz, Saúde, Alegria e Equilíbrio para TOD@S,

domingo, 5 de setembro de 2010

CAMINHADA DE PODER EM CASA BRANCA - MG

CAMINHADA DE PODER
COM VIVÊNCIA XAMÂNICA
Domingo, 19 de setembro, em Casa Branca-MG

O propósito dessa Caminhada de Poder é levar o participante a uma experiência imediata, concreta e profunda com a sua essência. Nesse dia realizaremos o que o povo Guarani chama de Oguatá Porá, uma “Boa Caminhada”, uma caminhada sagrada onde o ato de caminhar será uma metáfora de nosso caminho na vida.
Sairemos cedo, às 8 da manhã, de um ponto pré-estabelecido apenas com os participantes da caminhada e subiremos até o topo de uma montanha sagrada na belíssima região de Casa Branca, próximo ao Parque Estadual da Serra do Rola Moça. Ali, em um Lugar de Poder, realizaremos uma vivência fundamentada em tradições ancestrais indígenas, onde trabalharemos conceitos atuais como Ecologia Profunda e Ecologia Integral.
Ecologia Profunda é a idéia de que a natureza é um bem em si mesma e não mera coadjuvante da espécie humana, parte do princípio de que todas as formas de vida tem o mesmo valor e importância. Ecologia Integral é um conceito abrangente de Ecologia que a relaciona não apenas com o meio ambiente mas com todas as relações interpessoais, incluindo a sociedade e o autoconhecimento.
Por meio da prática xamânica, buscaremos nosso ser integral que não apenas faz parte da natureza, mas que é natureza! Assim, a Ecologia deixa de ser algo externo e passa a fazer parte, efetivamente, de todo nosso ser, levando ao autoconhecimento, crescimento pessoal, cura interior e, conseqüentemente, à cura de nosso próprio planeta.
Nessa prática não usaremos plantas de poder, nem iremos ingerir nenhuma substância psicoativa, para a expansão de consciência serão utilizados instrumentos sagrados como o tambor, além da força do próprio lugar de poder. A condução da vivência ficará a cargo de Ka Ribas que há anos pratica e trabalha com os ensinamentos ancestrais de diferentes culturas ameríndias. Em sua jornada pessoal, Ka recebeu ensinamentos de tradições andino-amazônicas, mexicanas, norte-americanas e de indígenas brasileiros.
Venha fazer parte dessa Oguatá Porá e descobrir o valor dos ensinamentos ancestrais em nossos dias.

AHO MITAKUYE OYASIN – POR TODAS AS NOSSAS RELAÇÕES

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

O CAMINHO SAGRADO DO POVO GUARANI*

“Quando Nhanderu fez o mundo, ele fez também os caminhos!”

O povo Guarani tem um profundo respeito pelos caminhos. O “caminho”, o “caminhante” e o “caminhar” são realidades e conceitos preciosos dentro do seu complexo mundo cultural.
Tanto que eles, notadamente os mbyás, orgulhosamente se autodefinem como “tapejaras”, palavra que algumas vezes vezes aparece traduzida como “povo sempre em movimento”.
Conforme relatou Werá Tupã à pesquisadora Rosana Bond:
“Nós somos tapedjá porque sempre estamos no caminho. Falam muita coisa, mas de verdade essa palavra significa ‘guardião dos caminhos’. Não quer dizer só guia de estrada, mas também do caminho espiritual,”
Os Guarani sacralizam as caminhadas, chamadas “oguatá”.
Segundo Celeste Ciccarone: “Oguatá, a caminhada, é a representação do percurso da reatualização do mito original da fundação do mundo mbya (guarani) e de seus heróis fundadores: a existência do mundo terreno se faz e é feita pelo movimento, nomeando o espaço, rompendo o território, redescobrindo e reconquistando o mundo”.
“A migração é a celebração e a lamentação dos mbya sobre o mundo natural e humano. Um rito de identificação de um povo que não pára, um povo que caminha no espaço vivenciado como um campo de constante travessia, movimento e reciprocidade, uma comunicação de palavras, bens, mulheres e homens que circulam initerruptamente”.
A antropóloga Flávia de Mello diz que nas caminhadas, até os dias atuais, está um desejo da tribo de imitar os deuses, além de ser um reforço aos poderes dos xamãs:
“Oguatá Porá significa literalmente boa caminhada. O caminhar tem uma conatação cosmológica fundamental para os Guarani.
(...) É a forma com que os deuses construíram o mundo, e o caminhar pelas distintas aldeias, reconstruindo suas casas, roças, suas vidas enfim, reproduz essa conduta (das divindades).
(...) Em sentido mais amplo, oguatá é uma metáfora para ‘viver’. As oguatá, ato de caminhar, ou as ‘viagens’, são ações fundamentais para a aquisição e a utilização dos poderes xamânicos”.


* Resumo retirado do livro "História do Caminho de Peabiru - Volume I" de Rosana Bond

domingo, 22 de agosto de 2010

LUGAR DE PODER*

"Dentro da tradição Americana Nativa acreditamos que a Mãe Terra é um ser vivo. Quando um ser humano se dirige a um Lugar de Poder, a atenção da Mãe Terra é direcionada para aquele ponto, e a energia começa a fluir mais fortemente naquela área, já que tanto os nossos corpos quanto o dela estão carregados de eletromagnetismo.
Nossa Mãe Terra possui linhas de energia que se assemelham bastante aos meridianos energéticos do corpo humano. O Povo de Pedra equivale aos nossos ossos, e o solo se compara à nossa carne. As águas de nosso planeta representam nosso sangue, e formam as marés de nossas emoções. Os Lugares de Poder se criam toda vez que a energia se concentra numa só área. Os Seres-Trovão re-energizam nossa Mãe Terra – já que ela é magnética por natureza – através da força do relâmpago. Os Bastões de Fogo, ou raios, abrem caminho até as áreas que já tiveram sua energia drenada por causa do mau uso feito pelo ser humano.
A Mãe Terra fornece de boa vontade a energia necessária para sustentar os corpos físicos dos seres humanos ou das outras Criaturas que necessitam de apoio.
Temos a capacidade de catalisar os elementos, e de influir nas condições planetárias. Possuíamos a habilidade de direcionar nossos pensamentos para poder influenciar os meridianos de energia que alimentam a Terra.
A Ligação com a Terra fornece a energia necessária para que possamos desenvolver nossos dons, habilidades e talentos naturais.
Quando esse dom é descoberto e utilizado de forma adequada, nós nos tornamos simultaneamente doadores e receptores. Tornamo-nos antenas vivas, ou pontes que possibilitam a troca de energia entre a Mãe Terra e a Nação do Céu, à semelhança dos Seres-Trovão."

*Resumo retirado do livro As Cartas do Caminho Sagrado de Jamie Sams

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Solstício de Inverno

No modelo ou paradigma indígena, a repetição, retorno ou alternância de situações é um fenômeno “natural”, assim como o são todos os demais ciclos da natureza: o dia e a noite, as estações do ano solar, as fases da lua, períodos de seca e de chuvas e o ciclo menstrual da mulher. Assim como a mulher só pode conceber em alguns poucos dias de seu ciclo menstrual, existem os dias propícios e de qualidade energética específica para serem executados determinados rituais e cerimônias.
Nas línguas quetchua e aymara, nativas da região andina, a palavra Pacha pode significar tanto o Tempo quanto o Espaço, conceitos que possuem uma estreita correspondência dentro da concepção andina. Aplicando o conceito de Pacha à localização espacial dos santuários da natureza e pontos de invulgar qualidade e intensidade energética, ampliamos a noção de Lugar de Poder com o que podemos chamar de "Tempo de Poder".
Assim, rituais realizados em datas especiais, em lugares específicos, podem ampliar e potencializar determinados padrões energéticos.
O Solstício de Inverno é um dos principais desses momentos de poder, serve, inclusive, como referencia para o encerramento e início do ciclo solar. O próprio calendário gregoriano, que rege a grande maioria do mundo globalizado, baseia-se no inverno do hemisfério norte, a partir de dezembro, para encerrar seu ano solar. Dez a nove dias após o solstício, o ciclo é reiniciado no dia 1º de janeiro.
Para nós do hemisfério sul, esse importante momento astronômico e energético acontece em junho, se formos coerentes com os ciclos e funções da natureza, é agora que termina e começa nosso "ano" solar. Para a tradição Aymara, do altiplano boliviano, entraremos, a partir de 21 de junho de 2010, no ano 5.518!
Esse é um momento propício para o recolhimento interno, avaliação do que passou e começar a "sonhar" novos projetos. É auspicioso realizar cerimônias e rituais que agradeçam o que foi recebido e que estejamos abertos para as bençãos que estão para vir.
Finalizo esse texto com o convite, para os que vivem perto de Belo Horizonte ou estiverem por aqui próximo ao solstício, para particparem de um celebração que será realizada no domingo, 20 de junho, véspera do dia do solstício, em Casa Branca, povoado que pertence ao munícipio de Brumadinho, onde subiremos ao topo de uma das montanhas da região, até a um lugar de poder, onde reberemos os primeiros e energéticos raios do Pai Sol (já com o padrão especial do solstício) e realizaremos uma oferenda de flores, sementes, frutas e outros produtos naturais para a Mãe Natureza, em agradecimento pela fartura e saúde.
No mais, que as bençãos do Grande Espírito estejam com todos nesse novo ciclo que se inicia, que os sonhos que forem semeados se realizem e que a cura de cada um e de todo o planeta se manifeste!
Aho Metakiase - Por Todas as Nossas Relações!

domingo, 18 de abril de 2010

O EXEMPLO DE UMA CIVILIZAÇÃO SUSTENTÁVEL

Atualmente, o grande desafio mundial é encontrar soluções para o sério desequilibro ambiental do planeta. Nesse contexto, exemplos de sociedades passadas que se formaram, a partir de uma ética ecológica, atingindo altíssimo grau de desenvolvimento tecnológico, econômico, social, cultural e espiritual é bastante pertinente.
O grande avanço obtido pelas antigas civilizações ameríndias, mantendo princípios e uma ética ecológica, revela preciosos ensinamentos.
O Estado indígena sul-americano Tawantinsuyo, também conhecido como ‘Império Inka’, era composto no início do século XVI, por cerca de dez milhões de habitantes, vejamos algumas informações interessantes acerca da última grande cultura autóctone na região andina, os Inkas:
· Teve a fome erradicada e havia estocagem de alimentos suficiente para suprir as demandas de toda a população por décadas!
· Produtividade agrícola altíssima com a utilização de sofisticadas técnicas junto a práticas agrícolas milenares, respeitando o equilíbrio dinâmico e natural, estabelecendo uma atividade permanente e ecológica ( permacultura).
· Nesta sociedade existiam grandes cidades com exímio planejamento urbano, organizadas e com saneamento básico, além de abastecimento de água pura e cristalina.
· As construções eram harmônicas e utilizavam técnicas de bioconstrução (edificação ecológica) e geobiologia (medicina do habitat).
· Havia bem estar social, todo casal recebia condições para seu sustento e para constituir uma família saudável e numerosa.
· Praticamente não havia criminalidade e as casas não possuíam portas para fechá-las; as instituições políticas funcionavam e a corrupção era severamente punida.
· Redes de estradas interligavam milhares de quilômetros e mantinham-se conservadas e operantes em qualquer época do ano.
· E o melhor : tudo isso através de uma relação simbiótica e respeitosa com a natureza e seus ciclos, com um desenvolvimento sustentável e responsável!

ATÉ 500 ANOS ATRÁS ESSA ERA A DESCRIÇÃO E REALIDADE DE UMA GRANDE ÁREA DA AMÉRICA DO SUL!

Esse “mundo de sonhos” desmoronou com a chegada dos europeus e foi não apenas desmembrado como teve sua memória sistematicamente apagada para que outra ordem, baseada na exploração, destruição e desrespeito à natureza fosse implementada.
Na época dos Inkas, a base de todo seu desenvolvimento foi uma série de princípios que compunham uma rede de conhecimentos, a Filosofia Andina ou como define o filósofo suíço Josef Estermann: Pachasofia.
O neologismo quechua/aymara-grego Pachasofia define essa rede de conhecimentos, tecida durante milênios e ainda viva e vigorosa, que pontua as ações e o pensar de seres humanos da região da Cordilheira dos Andes e é marcada por uma ética e valores essencialmente ecológicos.
A palavra Pachasofia é formada por Pacha do quechua/aymara, e significa tanto o tempo quanto o espaço, o cosmos, o universo e o planeta Terra; mais o termo grego sophia, que expressa o “saber” integral a respeito da “realidade”.
A filosofia andina, Pachasofia, possui um caráter essencialmente prático, dado a natureza desafiadora do meio andino, acima de 3.500 metros, com ventos gelados, granizadas, movimentos sísmicos e outras dificuldades para a própria sobrevivência humana, não faz muito sentido um pensamento apenas especulativo e teórico.
Portanto este pensamento teve que ser aplicado na prática e se traduzir em técnica e método.
Fruto da observação sistemática e paciente da natureza, as concepções, valores, saberes, tecnologias e tradições do horizonte cultural andino, refletem a aproximação e simbiose com a Mãe Natureza - PACHA.
E Pacha é os cosmos, a totalidade das coisas que se divide em dois para a manifestação do universo, gerando as polaridades.
O saber andino reconhecia as polaridades e as integrava por meio dos princípios de correspondência, complementaridade e reciprocidade.
Estes princípios interligam os extremos do universo dual: o masculino e o feminino, direito e esquerdo, o Céu e a Terra, o Sol e a Lua, o dia e a noite, quente e frio, chuva e seca, simples e complexo, material e imaterial, teórico e prático, espiritual e terreno, o passado e o futuro, a luz e a sombra.
O profundo conhecimento da natureza em suas manifestações e ciclos foi o princípio norteador do desenvolvimento humano na região andina e um importante legado para a humanidade. Uma sabedoria e ensinamentos que são disponíveis para nós do século XXI.
Não precisamos partir do zero, podemos e devemos tomar as sábias lições do passado e mesclá-las aos avanços e possibilidades da modernidade, criando uma realidade mais harmônica, ecológica e sustentável.

quarta-feira, 24 de março de 2010

O ESPELHO ENEVOADO

Do livro “Os Quatro Compromissos – O livro da Filosofia Tolteca” de Dom Miguel Ruiz

Três mil anos atrás, havia um ser humano, como eu e você, que vivia perto de uma cidade cercada de montanhas. Embora estudasse para tornar-se xamã e para aprender a sabedoria de seus ancestrais, não concordava completamente com todos aqueles ensinamentos. Em seu coração, sentia que existia algo mais.
Um dia, enquanto dormia numa caverna, sonhou que viu o próprio corpo dormindo. Saiu da caverna numa noite de lua nova. O céu estava claro e ele enxergou milhares de estrelas. Então algo aconteceu dentro dele que transformou sua vida para sempre. Olhou para suas mãos, sentiu seu corpo e escutou sua própria voz dizendo: “Sou feito de luz; sou feito de estrelas.”
Olhou novamente para o alto e percebeu que não eram as estrelas que criavam a luz, mas sim a luz que criava as estrelas. “Tudo é feito de luz”, acrescentou ele, “e o espaço no meio não é vazio.” E ele soube tudo o que existe num ser vivo, como soube que a luz é a mensageira da vida, porque está viva e contém todas as informações.
Então compreendeu que, embora fosse feito de estrelas, ele não era essas estrelas. “Sou o que existe entre elas”, pensou. Assim, chamou as estrelas de tonal e a luz entre elas de nagual, e percebeu que a harmonia e o espaço entre os dois eram criados pela Vida ou Intenção. Sem a Vida, o tonal e o nagual não poderiam existir. A Vida é a força do absoluto, do supremo, do Criador que tudo cria.
Essa foi a sua descoberta: tudo o que existe é uma manifestação do ser que denominamos Deus. Tudo é Deus. E logo ele chegou à conclusão de que a percepção humana é apenas a luz que percebe a luz. Viu também que a matéria é um espelho – tudo é um espelho que reflete a luz e cria imagens a partir dessa luz – e o mundo da ilusão, o Sonho, é apenas fumaça que nos impede de enxergar quem realmente somos. “O verdadeiro nós é puro amor, pura luz”, disse ele.
Essa compreensão mudou sua vida. Uma vez que ele soube quem realmente era, olhou ao redor em direção aos outros seres humanos e aos outros elementos da natureza. Ficou surpreso com o que viu. Em cada ser humano, animal ou árvore; na água, na chuva, nas nuvens, na terra – ele se via. A Vida misturava o tonal e o nagual de formas diferentes para criar bilhões de manifestações da Vida.
Naqueles poucos instantes ele compreendeu tudo. Ficou muito excitado e seu coração se encheu de paz. Mal podia esperar para revelar ao seu povo as suas descobertas. Mas não havia palavras para explicar. Tentou falar com os outros, mas eles não conseguiam entender. Mas perceberam que o homem havia mudado, que algo bonito se irradiava dos seus olhos e da sua voz. Repararam que ele não julgava mais as coisas e as pessoas. Ele não era mais como os outros.
Embora entendesse os outros muito bem, ninguém conseguia entendê-lo. Acreditavam que ele fosse a encarnação viva de Deus. Ao ouvir isso, ele sorriu e disse: “É verdade. Sou Deus. Mas vocês também são. Somos o mesmo, vocês e eu. Somos imagens de luz. Somos Deus.” Mesmo assim, as pessoas não o entenderam.
Havia descoberto que era um espelho para as outras pessoas, um espelho no qual podia observar a si mesmo. “Todo mundo é um espelho”, ele disse. Viu a si mesmo em todos, mas ninguém o viu como eles mesmos. Assim compreendeu que todos estavam sonhando, mas sem consciência, sem saber o que realmente eram. Não podiam enxergá-lo como eles mesmos porque havia uma parede de nevoeiro entre os espelhos. Uma parede construída pela interpretação das imagens de luz – o Sonho dos seres humanos.
Então percebeu que logo iria esquecer tudo o que aprendera. Como queria lembrar-se de todas as visões que tivera, decidiu chamar a si mesmo de Espelho Enevoado, para que sempre soubesse que a matéria é um espelho e a névoa do meio é o que nos impede de saber quem somos. Ele disse: “Sou o Espelho Enevoado. Estou vendo a mim mesmo em todos vocês, mas não nos reconhecemos por causa do nevoeiro entre nós. Esse nevoeiro é o Sonho, e o espelho é você, o sonhador.”

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

UM TRIBUTO AO COYOTE ALBERTO RUZ

Conheci Alberto Ruz Buenfil no final de 2006, na época a Caravana Arco Íris Pela Paz estava em Belo Horizonte e Alberto e a Caravana trabalhavam em um projeto lindo, mágico e alucinado: a filmagem do longa metragem “Cocoré” do genial (e não menos alucinado) Túlio Marques, na época não podia imaginar como aquele encontro em volta do fogo mudaria para sempre minha vida!
Digo isso pois Alberto foi quem realmente me mostrou o que significa ser um Guerreiro do Arco Íris, o comprometimento visceral e afetivo com a Terra e o caráter transcendente e mágico do momento mítico em que vivemos aqui e agora.
Na época tinha inúmeros questionamentos sobre os calendários maias e a data de 2012. Pensei que por sua trajetória e vivência Alberto me traria esclarecimentos, na realidade ele, com toda a simplicidade de seu profundo e legítimo conhecimento do tema, me mostrou muito mais!
Não me esqueço de quando lhe perguntei sobre as diferenças e contradições das contagens de tempo do calendário proposto por José Arguelles em relação aos calendários ainda usados pelos maias da Guatemala, Alberto realizou um gesto com as mãos como serpentes a se cruzarem e me revelou sua tentativa de promover um encontro conciliador entre Arguelles e xamãs guatemaltecas afirmando que o momento é de união e antes das diferenças, deveríamos procurar nossos pontos em comum.
Obs.: Alberto é filho do arqueólogo Alberto Ruz Lullier, descobridor, em 1952, da tumba real na pirâmide das inscrições em Paleque e, ainda criança, foi um dos primeiros seres humanos, depois de 1.000 anos, a entrar no espaço mágico de sepultamento do poderoso rei-sacerdote maia Pacal. Conviveu sua infância com originários maias e se iniciou nessa Tradição.
Naquele nosso primeiro encontro compreendi porque esse incansável e valoroso guerreiro utiliza o arco de sete cores como símbolo: fora o aspecto estético e mágico, sua lição sobre a diversidade provém que nele cada cor possui suas qualidades particulares, mas somente todas juntas compõem a beleza do Arco-Íris, harmonicamente, em pé de igualdade e expressando a poética força sinérgica de todos serem um. Um arco, um símbolo, mas composto de sete cores, onde se faltar um, será outra coisa, não mais um Arco-Íris.
Alberto me fez perceber que o momento em que vivemos é a concretização do sonho mítico e ancestral de nossa amada Abya Yala, e mais, eu vinha com a cabeça cheia, cerebral, lógico e racional, o Coyote me mostrou que o que vale são os sonhos e o coração!
Conviver com ele, sua companheira Verônica e toda colorida e mágica turma da Caravana, participar das cerimônias, palestras e festas foi um honra e um grande prazer!
E mais, ele me fez ver a responsabilidade de assumirmos nosso papel de guerreiros nesse momento, de lutarmos bravamente pela Paz, a Harmonia e o Amor em Todas as Nossas Relações! Até aquele momento eu me contentava em buscar resgatar culturas milenares de Abya Yala por meio de pesquisas e investigações, escrevendo artigos, textos, roteiros e até livros, participando de expedições, realizando cerimônias e iniciações em Tradições ancestrais, mas percebi que ainda era pouco... Faltava colocar meu coração no jogo!
Depois daqueles dias durante o final de 2006, nos encontramos algumas outras vezes, me lembro com muito carinho da cerimônia no Parque Municipal de BH durante o TEIA – Encontro de Pontos de Cultura, quando foi lançando o filme “Cocoré”. Também tive um encontro mágico e sincrônico, no Rio de Janeiro, com sua companheira Verônica, justo quando eu estava a viajar para o México, e eles para a Inglaterra, estávamos todos na cidade maravilhosa atrás de vistos, e nos encontramos por “acaso” em um Café em Botafogo! Nessa viagem para o México, sua presença, força, lembrança e energia estiveram comigo em vários momentos. Fora isso, sempre tinha notícias suas pelos informes da Caravana via internet.
A última vez que nos vimos foi em janeiro de 2009, durante o Fórum Social Mundial em Belém, na ocasião estivemos juntos na Aldeia da Paz e participamos, com milhares de outras pessoas, da incrível passeata de abertura do Fórum pelo centro de Belém, que momento mágico! Principalmente depois da violenta chuva que caiu, lavando e purificando o evento, além de todos na rua, e do não mágico Arco Íris que se seguiu!
Na ocasião, pude curtir um pouco do carinho, da amizade e dos ensinamentos do velho Coyote, isso quando os desafios e batalhas da tenda de cura (onde colaborei uns dias) e os múltiplos afazeres de liderança da Aldeia (onde Alberto tinha que se multiplicar, custando até um pouco de sua saúde) permitiam. Porém a honra me veio quando ele me convidou para participar, tocando charango, da gravação das músicas e canções da Caravana. Momento mágico aquele! Aliás nunca escutei essas gravações, se por acaso alguém ler esse relato-tributo e souber dessas gravações favor me dizer.
Um ano após esse último encontro, Alberto está de volta ao México, e recebo seu e-mail com o texto final do livro “Nas Trilhas da Utopia – Movimento Comunitário no Brasil”, organizado pelo velho Coyote. Puxa que emoção! Só posso lhe agradecer companheiro, por sua dedicação, valor, coragem, fé, carisma, ensinamentos e por seu coração! Você é um espelho mágico no qual milhares de guerreiros, assim como eu, puderam e ainda poderão se contemplar!

Viva El Portuñol! Viva seus Sonhos e Viva esse Velho e Valoroso Coyote!

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

O RENASCIMENTO DAS CULTURAS ANCESTRAIS AMERÍNDIAS

Incas, Maias e Astecas e os ciclos cósmicos*

A chegada de Cristóvão Colombo à América, em 1492, nem de longe marcou o descobrimento do continente americano. Pesquisadores estimam que no momento em que os europeus aportaram, a terra já era habitada por cerca de 50 a 80 milhões de pessoas.

Os povos pré-colombianos, como passaram a ser conhecidos, eram de uma diversidade cultural impressionante, havia grupos nômades, que desconheciam o uso de metais e formavam comunidades relativamente simples, assim como sociedades complexas e impérios que os europeus, no seu afã de catequizadores e espoliadores, sequer imaginaram ou entenderam.

No mapa arqueológico e antropológico da América, ganham destaque duas áreas: a região andina, onde atualmente estão localizados o Peru, Bolívia e Equador (onde surgiram culturas como a Chavin, Moche, Nazca, Tiwanaco, e Inca) e a mesoamérica, conceito criado na década de 40 do século XX para descrever a área que compreende a América Central e sul da América do Norte que compreende territórios do México, Guatemala, Belize e Honduras (terra de civilizações como a Olmeca, Tolteca, Teotihuacana, Maia e Asteca).

Nessas tradições indígenas a vida foi medida por ciclos cósmicos que se sucediam como as estações do ano. O admirável conhecimento dessas culturas lhes possibilitaram conhecer tanto os ciclos que envolvem o planeta Terra, quanto os ciclos do céu através dos astros celestes e até os ciclos das criaturas vivas, inclusive o homem.

"Senhores do Tempo", os Maias possuíam um "calendário" de 260 unidades chamado de Tzolkin, que era o resultado da multiplicação de dois números sagrados, o 13 e o 20 (13x20=260). Funcionando como uma matriz, o Tzolkin servia para calcular e sincronizar diversos ciclos, um exemplo é a gestação humana que dura 273 dias (260+13).

Para os povos mesoamericanos , inclusive os Maias e Astecas, a atual humanidade teria sido precedida por quatro eras anteriores, chamadas de sóis, estaríamos, portanto, vivendo o "Quinto Sol". Semelhante tradição é encontrada na cordilheira dos Andes, onde grandes ciclos cósmicos foram chamados de Inti ou Sol, cuja duração seria de mil anos. Cada Inti era composto de duas metades de 500 anos cada uma, chamando-se Pachakuti cada meio Inti . Cada ciclo Pachakuti se identifica com a noite ou com o dia (um período de escuridão e outro de luz) e representa uma renovação da Terra, do tempo e do espaço, o caos transformador do mundo assinalando o início de um novo ciclo ou o amanhecer de um novo dia.

Para os Maias e Astecas também haveria um momento de mudança planetária. O ano de 1992 marca o início do último katun (período de mais ou menos vinte anos) do 13º baktun (144.000 dias ou pouco mais de 394 anos) do Grande Ciclo dos Maias de 1.872.000 dias ou 5.200 tun, que se encerra em 2.012. Já a tradição Tetzkatlipoka do povo Mexihka ou Asteca permaneceu oculta durante 468 anos (de 1521 até 1989) e, desde 1991, é aberta a todos que buscam a mais alta qualidade de vida e do desenvolvimento do ser humano.

Novamente coincidente com as culturas mesoamericanas, este amanhecer se manifestou, segundo a tradição andina, a partir de 1992, quinhentos anos após a chegada de Cristóvão Colombo à América, é o décimo Pachakuti e será marcado pelo retorno da sabedoria ancestral junto ao respeito e amor à Pachamama (para os Andinos) e Tonantzin (na língua nahuatl dos Astecas), ambos nomes dados à Mãe-Terra.




O Renascimento das Culturas Ancestrais Ameríndias
Parte II
O Ponto de Mutação

Para que se manifestasse uma cultura realmente global e planetária, a expansão promovida inicialmente pelos europeus, a partir do século XV, sobre a égide do capitalismo que se afirmava, foi um meio doloroso que, como um difícil parto, trouxe à luz a aldeia global.

Os ciclos de tempo que regem a dinâmica histórica dentro da perspectiva cósmica anunciam que, cumprida a expansão Yang/ masculina da civilização ocidental, industrial, capitalista, urbana e individualista, uma inversão da polaridade histórica está ocorrendo.

Neste novo tempo, Yin/feminino, amoroso, intuitivo e solidário, o retorno às culturas arcaicas soa como um chamado, inclusive anunciado através das inúmeras profecias indígenas que previam a pacificação do branco e a tolerância e união dos povos.

Na Profecia do Arco-Íris, de tribos da América do Norte, os seres humanos irão se reconhecer como irmãos, gerados em um sublime e divino ato de amor pela mãe-terra, Pachamama.

Existe uma profecia tibetana que anunciou a invasão chinesa e o deslocamento da polaridade energética planetária do hemisfério norte - que tinha na região do Himalaia sua fonte irradiadora e seu Axis Mundi no monte Everest ou Sagarmatha de 8.848m.s.n.m. - para a região da cordilheira dos Andes na América do Sul, sendo o Aconcágua, com 7.021 metros, seu pico sagrado.

Surpreendentemente, os pontos mais altos dos dois hemisférios do planeta, representados pelo Aconcágua no sul e Everest no norte, encontram-se ambos entre as latitudes 20o e 40o (sul e norte). Além disso, enquanto a cordilheira do Himalaia segue as longitudes de 70o a 90o leste, a cordilheira dos Andes está entre 60o e 80o de longitude oeste.

Também não deixa de ser surpreendente que uma profecia idêntica tenha sido revelada ao Aj'qij (xamã ou sacerdote do povo Maia dos altiplanos da Guatemala) Gerardo Kanek Barrios, pelos anciões deste povo. Em um de seus encontros com os anciões, ele levou um mapa mundi e o mostrou a um sábio maia que sorriu e, mesmo sem nunca ter visto um mapa do globo, lhe indicou o Tibet e revelou que dali partiu a corrente energética que deveria percorrer a coluna vertebral do planeta - representada por cadeias de montanhas - passar pela China, subir a parte oriental da Rússia, atravessar para o Alaska e dali "descer" pelas Montanhas Rochosas na América do Norte até o México, seguindo pela Guatemala e resto da América Central até ser detida pelo Canal do Panamá, que, segundo o ancião, estaria bloqueando seu caminho.

Superado o bloqueio, manifestado pelo canal administrado pelo EUA, a energia se dirigiria ao sul em direção à Amazônia para depois tomar o rumo dos Andes peruanos e bolivianos, ativando os centros energéticos da Pachamama.

Atualmente muito já se sabe e foi difundido sobre as tradições e sabedoria dos povos orientais como chineses, hindus, japoneses e tibetanos; porém, coerente com a idéia de alternância de polaridades, a cultura ameríndia deve ser resgatada e reexaminada; não para substituir os ensinamentos e tradições de outros povos, mas somar a esses, num processo dialético para estabelecer a síntese de uma cultura planetária comprometida com a Terra e com as gerações futuras de seres humanos.


*Texto publicado originalmento no Jornal Shambala

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

RESISTÊNCIA, VALORIZAÇÃO E RESGATE DA TRADIÇÃO CULTURAL ANDINA - Palestra realizada na PUC-MG em 2009

Resumo

A essência da tradição cultural na vasta região da Cordilheira dos Andes resistiu por meio de diferentes artifícios no decorrer de séculos após a conquista e recentemente encontra-se em uma situação de valorização e resgate. Esse processo é ambíguo e dialético uma vez que é explorado até como marketing político ao mesmo tempo em que reafirma a identidade cultural ameríndia e reforça importantes valores universais.


A milenar tradição cultural encontrada na vasta e diversificada área sul-americana conhecida como América Andina, foi forjada por meio da desafiante interação do ser humano com a imponente e instável natureza da região. Apesar dos séculos de perseguição e extermínio físico e cultural das populações andinas, estas ousaram resistir e um panorama atual é de resgate e valorização de suas tradições ancestrais.
Essa abordagem da resistência cultural de natureza ameríndia, em particular na região andina, corresponde a um esforço de destacar a sobrevivência de uma concepção de mundo e valores distintos ao padrão dominante de influência ocidental. Como escreve o filósofo Josef Estermann:
“Se trata de dar voz e expressão aquelas e aqueles que foram caladas/os pelo ruído triunfador das concepções e idéias importadas e impostas à força aos povos originários de Abya Yala . (...) É um dever histórico, o gesto de ‘devolução’ do próprio, maltratado, negado e supostamente extinguido.” ESTERMANN, Josef. Filosofia Andina – Sabiduria Indígena Para Un Mundo Mejor. Instituto Superior Ecuménico Andino de Teologia – ISEAT, La Paz – Bolivia, 2006, p. 10. tradução do autor. Obs: Abya Yala é o termo com que o povo originário Kuna do Panamá denomina ao continente americano em sua totalidade e significa “Terra em Plena Maturidade”, a utilização deste termo em substituição à América foi sugerida pelo líder aimara Takir Mamani, que propôs que todos indígenas o utilizem em seus documentos e declarações orais. Pesquisadores e pessoas em geral, próximas e ligadas ao universo indígena, têm utilizado o termo Abya Yala quando se referem ao continente americano. Além de Josef Estermann, também utilizaram esse termo em publicações: Alberto Ruz Buenfil, Carlos Milla Villena, Javier Lajo e Walid Barham Ode.

A América Andina possui como eixo central, no sentido norte–sul, a mais extensa cadeia de montanhas do planeta, ao nascente da cordilheira estende-se o manto verde da floresta amazônica e ao poente, um litoral desértico. A Cordilheira dos Andes possui vários picos que se elevam acima dos 6.000 metros de altitude, dos quais o degelo forma inúmeros lagos e rios que correm para a bacia amazônica ou para o Oceano Pacífico.
Próximo aos 4.000 metros, estende-se o altiplano, terras altas mais ou menos planas, cujas características principais são o clima frio e seco e os ventos gelados, nesta inóspita região, chamada de “puna”, somente espécies muito bem adaptadas como o “ichu” (um tipo de capim comum dos Andes), vários tipos de cactos, os camelídeos sul-americanos (lhamas, alpacas, guanacos e vicunhas), e alguns outros animais conseguem sobreviver.
A região é marcada por instabilidade sísmica e climática, possui intricados micro-climas, frágeis, interligados e complexos eco-sistemas, neste território “vivo”, pulsante, de inúmeros desafios, a caprichosa natureza impõe-se com toda a sua grandiosidade e força.
Nesse lugar, o ser humano, assim como as outras espécies animais e vegetais, teve que se adaptar para sobreviver, para tanto, buscou interagir e inter-relacionar com a natureza por meio do respeito, do temor e da reverência.
A partir destes fundamentos, elaboraram seus princípios, sua cosmovisão e cosmogonia, desenvolveram ciência e tecnologia, filosofia e cultura, culminando em grandiosas civilizações.
O elemento natural foi tão determinante no processo de desenvolvimento cultural nos Andes que o filósofo Josef Estermann, de origem suíça mas radicado na Bolívia, utiliza o termo “Pachasofia” para definir o que seria uma filosofia andina, de origem muito antiga e que mantêm seus princípios em vigência.
O neologismo quetchua/aimara-grego Pachasofia é formado por Pacha do quetchua/aimara, que significa tanto o tempo quanto o espaço, o cosmos, o universo e a Terra; mais o termo grego sophia, que expressa o “saber” integral a respeito da “realidade”.
Cunhado por Fernando Manrique Enríquez e utilizado por Josef Estermann em sua obra “Filosofia Andina” , Pachasofia seria um nome para a rede de conhecimentos que expressam a “visão de mundo” – cosmologia – andina.
Essa rede de conhecimentos se baseia em princípios ainda hoje vivos na cultura dos povos da região andina, e seu fundamento básico é a relacionalidade, ou seja, tudo está relacionado, interligado, vinculado, conectado a tudo.
O princípio de relacionalidade mais os fundamentos “secundários” da Pachasofia: correspondência, complementaridade e reciprocidade , determinaram, na filosofia andina, uma ética essencialmente ecológica, onde as relações dos seres humanos com todas as outras formas de vida e manifestações da natureza devem ser calcadas no respeito e na reciprocidade.

Os princípios de Correspondência e Complementaridade referem-se à concepção indígena de um universo interligado por polaridades (dia e noite, céu e terra, masculino e feminino) que se cruzam perpendicularmente, a representação gráfica desse esquema seria justamente uma cruz conectando as diferentes dimensões espaciais, temporais e manifestações da realidade.

Já o princípio de Reciprocidade, pontua as inter-relações de todas as manifestações e seres do universo, incluindo as ações humanas que devem levar em conta esse fundamento como um princípio ético em todas as relações, seja entre os seres humanos e entre estes e as demais manifestações da natureza. Este princípio de reciprocidade, chamado de Ayni, estabelece as normas e a ética presente em todas as relações, sejam entre os seres humanos (runa kuna), ou entre os humanos e as forças da natureza, Apu kuna, ancestrais e deuses. Sobre essa milenar instituição andina, destacamos a obra “Ayni” do arquiteto e investigador peruano Carlos Milla Villena.
Porém, toda essa organização funcional e interligada do universo sofreu um terrível colapso com a chegada, invasão e conquista dos europeus no século XVI, o império inca, chamado de Tawantinsuyo (Quatro Cantos do Mundo), desmoronou diante dos intrépidos e aguerridos espanhóis, junto ruíram milenares crenças, dogmas e valores, uma verdadeira hecatombe para as populações autóctones. Quanto às demais instituições indígenas, foram suprimidas, ou tentaram combatê-las os conquistadores espanhóis.
No entanto, muito do mundo indígena sobreviveu, resistiu à conquista, colonização e ao processo de extermínio, físico e cultural, que já dura mais de 500 anos. O escritor peruano Manuel Scorza relatou e denunciou, por meio de seus livros , a luta das comunidades indígenas contra os poderosos latifundiários e as mineradoras estrangeiras, em plena década de sessenta do século XX. O ciclo de livros de Manuel Scorza conhecido como “A Guerra Silenciosa”, que denuncia a situação de camponeses andinos e que como o próprio autor define relatam “uma crônica exasperadamente real”, é integrado pelas novelas: “Redoble por Rancas” (1970), “Garambombo, el Invisible” (1972), “El Jinete Insomne” (1976), “Cantar de Agapito Robles” (1976) e “La Tumba del Relámpago” (1978).
Um exemplo de resistência cultural apresenta-se na utilização das línguas nativas, principalmente o quetchua e o aimara, idiomas falados por milhares de pessoas em países andinos e que atualmente são amplamente difundidos e ensinados em escolas. Existem até mesmo revistas e suplementos de jornais bilíngües (espanhol/aimara e espanhol/quetchua), com grande tiragem em cidades como La Paz.
Sobre o resgate das línguas e sua relação com a resistência cultural, deve ser mencionado o importante trabalho do casal boliviano Manuel Quispe e Mari Mamani Tito, responsáveis pelo importante Centro de Integração e Investigação Oral em História Andina – Paka-Illa , que tem como uma de suas metas, registrar a tradição oral aimara.
Outro exemplo, é a existência de uma instituição social, econômica e política muito anterior aos incas, o ayllu. Base social, cultural e da identidade indígena andina, existem, atualmente, centenas de ayllus em países como o Peru e a Bolívia.
O ayllu é um agrupamento humano, que pode ser considerado como uma comunidade ou tribo, formada muitas vezes por indivíduos aparentados, que guardam uma vinculação com um determinado território, obedecem a uma autoridade ou chefe local, o kuraka, e trabalham juntos, em mutirão, em um sistema de reciprocidade e ajuda mútua, na terra e em outras atividades, como na construção das casas dos membros da comunidade.
Além das tarefas de trabalho, os membros do ayllu, chamados de runa kuna em quetchua, também se unem para realizar seus ritos e celebrações. Em comunidade eles rezam, dançam e bebem juntos.
As relações estabelecidas entre os membros de um ayllu obedecem a normas muito antigas, estabelecidas pelos ancestrais e mantidas por meio da oralidade.
Uma característica dos ayllus, ainda presente na atualidade, é que seus membros tem como guardião ancestral e espiritual um elemento fantástico e de cunho mágico-religiosos que pode ser uma montanha, lagoa, animal ou outro totem, frequentemente um aspecto ou manifestação da natureza.
Um elemento cerimonial presente em todas as inter-relações de um ayllu, sejam entre runas kunas, seres-humanos e forças da natureza ou entre distintos mundos como o dos vivos e dos mortos, é a utilização de folhas de coca, que funciona como um intermediador ou elo entre os opostos ou polaridades.
Símbolo da relacionalidade presente na filosofia andina e de resistência cultural, as folhas da planta coca (Erythroxylum coca), assim como a entidade espiritual associada a ela chamada de Madre Cuca, é fundamental e imprescindível para a identidade autóctone andina . Trata-se de um arbusto típico da área de transição andino-amazônica, admirado por suas qualidades nutritivas, medicinais e mágico-religiosas.

Sobre a profunda e intrínseca relação entre a identidade, cultura e espiritualidade indígena e a coca, merece menção o trabalho da antropóloga norte-americana Catherine J. Allen que estudou e conviveu com a comunidade de Soncco, um ayllu do Distrito de Colquepata, Departamento de Cuzco, no centro sul do Peru.
Aliás, a coca deve ser considerada como um tenaz exemplo de resistência cultural, pois sofre intensa perseguição por sua associação com seu derivado: a cocaína.
Por ser a matéria prima da cocaína, o plantio de coca é associado ao narcotráfico e condenado por organismos internacionais que ignoram e desrespeitam a importância cultural da coca. Esse é um tema polêmico onde se percebe que a desinformação e confusão entre a coca e a cocaína são muitas vezes utilizadas como estratégias por aqueles que desejam combater e erradicar o plantio da planta, o que representa mais um capítulo na secular guerra contra os valores, tradições e a cultura ameríndia .
Apesar da permanência das línguas nativas e do ayllu, a invasão e conquista européia desarticularam quase todas as outras instituições autóctones e impuseram valores e princípios alienígenas ao universo indígena.
Para manutenção dos princípios fundamentais da filosofia e cultura andina, foi necessário desenvolver estratégias de resistência como o sincretismo, a mestiçagem e o hermetismo, que, junto à dissimulação e ao silêncio, as mantiveram vivas. Estes recursos possibilitaram a permanência da milenar tradição andina, em sua essência e por meio de suas diversas manifestações.
Os recursos de sincretismo e mestiçagem asseguram a sobrevivência de valores e manifestações originárias por meio da mistura e transfiguração dos elementos essencialmente autóctones a outros oriundos do colonizador europeu e mais recentemente, a elementos estrangeiros que também invadem os países andinos no processo de “globalização” .

Sobre o desafio representado pela “globalização” às tradições culturais indígenas, afirma Josef Estermann: “O que ocorreu faz 500 anos com o continente americano, se perpetua hoje em dia mediante a hegemonia econômica e cultural do Ocidente, por meio da ‘globalização’ econômica neoliberal e informática, sustentada e fomentada em parte pela filosofia pós-moderna. Nesse processo – que é de uma magnitude e ‘necessidade’ (no sentido de um determinismo histórico) muito maior que a própria Conquista – as concepções não-ocidentais do universo e do ser humano não tem ’ valor de mercado’ para poder competir com o paradigma dominante (que às vezes é o paradigma de dominação) ocidental. Quando muito são consideradas ‘idéias exóticas’ com um valor estético para a indiferença conceitual e ética do ser humano e da mulher pós-modernos. A concepção totalizadora da globalização econômica e cultural é a ponta do iceberg da modernidade e pós-modernidade ocidentais que uma vez mais demonstra sua aspiração supercultural e ‘totalitária’. Esta tendência universalista e totalitária só se pode realizar sob a condição de negar o ‘outro’ em sua alteridade. Uma das formas acadêmicas mais sutis de negação consiste no eurocentrismo e ocidentalismo dos mesmos critérios de negação e exclusão.” ESTERMANN, Josef. Filosofia Andina – Sabiduria Indígena Para Un Mundo Mejor. Instituto Superior Ecuménico Andino de Teologia – ISEAT, La Paz – Bolivia, 2006, p. 9 e 10. tradução do autor.


Utilizar as estratégia de sincretismo e mestiçagem não foi difícil, uma vez que, em sua essência, a cultura e tradição andina apresentavam uma “abertura” às novidades, valores e elementos externos. Isso é facilmente comprovado em uma análise da civilização inca, que integrou inúmeros elementos, incluindo mitos, tecnologias e valores de vários outros povos que se incorporaram ao universo incaico.
A utilização de terraços de plantação nas encostas das montanhas, por exemplo, não foram invenções incas, apesar de que garantiram o sucesso agrícola e a prosperidade do império, já eram utilizados por vários outros povos e nações da região, séculos antes da expansão incaica, o mesmo se dá com divindades e princípios da cultura inca que foram herdados de culturas mais antigas.
Com a invasão espanhola, a resistência militar inca persistiu após 1532 por mais algumas décadas fazendo uso de uma disciplinada cavalaria, formada por índios armados com armaduras e espadas de aço capturadas dos inimigos. Nas cidades incas rebeldes desse período, a arquitetura apresentava uma inovação nos telhados das casas, ao invés de tetos de palha, telhas de cerâmica copiadas dos europeus.
Depois de consumada a conquista, a essência dos cultos e rituais indígenas foi mantida debaixo do verniz católico, onde divindades incaicas e pré-incas se “converteram” em santos da igreja, um curioso exemplo é a figura de Santiago Matamouros, ícone da Guerra de Reconquista que culminou na criação do Estado Nacional Espanhol e que originou o brado de guerra dos soldados espanhóis: “Santiago”! Quando escutaram esse grito, junto aos disparos de arcabuzes e canhões, os índios não tardaram em associar o marcial santo católico à divindade incaica Illapa, senhor dos raios e trovões.
Nos dias de hoje, em plena era de comunicações instantâneas e espaços virtuais, o mundo tradicional andino mantêm seu vigor e faz uso de recursos tecnológicos e “modernidades” para prosseguir sua milenar história, atualmente existem inúmeros endereços eletrônicos na internet voltados para a difusão dos valores tradicionais e a cultura ancestral. Também é possível encontrar vários grupos musicais que fundem rock-and-roll e música eletrônica à tradicional música andina, muitas vezes com temas que aludem e exaltam elementos ancestrais e históricos como os antigos imperadores incas; povos pré-incas; à sagrada folha de coca; aos espíritos das montanhas, chamados de Apus e à Mãe-Terra, Pachamama.
Paradoxalmente, outro recurso de sobrevivência da milenar cultura andina, foi o hermetismo, que ao invés de buscar a interação com o elemento externo, tornou-se velado e inacessível, podendo revelar-se apenas a uns poucos iniciados e assumindo uma áurea mística e religiosa.
Com esse recurso, segredos e tradições foram zelosamente guardados e, não raras vezes, sepultados junto com seus guardiões, que desafiavam poderosas instituições como o Tribunal da Inquisição Católica. Por essa estratégia, desapareceram avanços tecnológicos e permaneceram intocados inusitados conhecimentos sobre a espiritualidade e metafísica indígena.
Curiosamente, conforme prediziam antigas profecias, a revelação e divulgação de muitos segredos se deram a partir do final do século XX e início do presente século, e, muitas vezes, foram motivadas pela busca de não-índios pelos conhecimentos secretos dos antigos. Essa insólita situação despertou o interesse de jovens de origem indígena (que até então só tinham os olhos voltados às sedutoras e cômodas “modernidades” do mundo “globalizado”) para as tradições milenares de seus antepassados.
A própria existência destas profecias representa um elemento de resistência, ao mesmo tempo em que são fomentadoras de um processo de resgate, ressurgimento ou releitura do passado andino. Elas são perfeitamente coerentes com a concepção indígena de tempo que, diferente do paradigma ocidental, o concebe como um fenômeno cíclico, que pode ser representado como uma espiral (divergindo da comum representação em forma de linha) .

Sobre a concepção indígena do tempo, na obra "Quapaq Ñan: La Ruta Inka de Sabiduría", o pesquisador peruano Javier Lajo relata como lhe foi ensinado por seu próprio pai, do povo indígena puquina, que o cosmos se assemelha às ondas ou círculos concêntricos perfeitos desenhados sobre águas translúcidas de um tanque quando nelas se atira uma pedra, por esse artifício pedagógico, seu pai lhe demonstrou a “Lei Geral do Movimento e do Tempo”.

No modelo ou paradigma indígena, a repetição, retorno ou alternância de situações é um fenômeno “natural”, assim como o são todos os demais ciclos da natureza: o dia e a noite, as estações do ano solar, as fases da lua, períodos de seca e de chuvas e o ciclo menstrual da mulher. Além de se encaixar no modelo cíclico de tempo, este elemento revela outra curiosa percepção temporal dos povos andinos, novamente, contrário à visão ocidental, a tradição andina “enxerga” o passado à frente e o futuro às suas costas.
Para compreender este extravagante paradigma (ao menos aos olhos ocidentais), devemos recorrer às principais línguas nativas andinas, o quetchua e o aimara, pois elas revelam a curiosa relação entre passado e futuro para esses povos. Nessas línguas os termos que se referem ao passado, nayrapacha, ñawpa e ñawpaq, possuem sua raiz etimológica nayra e ñawi (aimara e quetchua respectivamente), que significa olhos. Portanto o que se vê “adiante” é o passado.
Já o vocábulo quepa/quipa (aimara e quetchua), que significa “costas” é usado para descrever o futuro. O poético ensinamento disso é que enquanto não conhecemos o futuro (ele está às nossas costas), o passado apresenta o exemplo dos antepassados, o histórico de milênios de sábia adaptação do ser humano à realidade de uma natureza desafiadora, como é a paisagem andina. Para a tradição andina o futuro está “para atrás” e o passado “adiante”.
Para um runa kuna, ou ser humano membro de um ayllu, a história seria uma repetição cíclica de um processo orgânico, correspondente à ordem cósmica e sua relacionalidade .
Coerente com essa concepção cíclica e orgânica de tempo existe, na região andina, diferentes versões sobre as distintas eras ou períodos de tempo que se sobrepõe como a alternância das estações do ano solar. Existe, por exemplo, a crença de que haveria cinco eras ou “sóis” :


1. O tempo primordial e a criação (pachakamaq).
2. O tempo dos antepassados (ñawpa machulakuna).
3. O tempo dos Incas e da Conquista.
4. O período “moderno”.
5. O Futuro.


Obs: Essa é a divisão de tempo que faz uma comunidade próxima ao nevado Apu Ausangate, o maior na região de Cuzco, e encontra-se em: GOW, Rosalind e CONDORI, Bernabé. Kay Pacha: Tradición Oral Andina. Centro de Estudos Rurais Andinos Bartolomé de Las Casas, Cuzco, 1976, p. 20-36.


É portanto no orgulhoso e nostálgico passado andino que muitas pessoas na região depositam suas expectativas e esperanças de tempos melhores, marcados pela valorização de sua cultura tradicional e originária. Nesse contexto, a concepção cíclica do tempo com suas profecias de retorno a tempos gloriosos e a uma “nova era dourada”, possuem uma insuspeita força e vigor, além de grande apelo emocional.
Dentre essas profecias destacam-se o mito do retorno de Inkarri , que seria uma espécie de messias andino, considerado como a reencarnação ou ressurreição do último monarca inca, ansiosamente aguardado por muitos e os ciclos de alternância de tempos de “luz” e “trevas”, como o dia e a noite que são delimitados por um período de caos que precede à ordem, chamado Pachakuti que significa: revolução, mudança, transformação do tempo, do espaço e do mundo.
Segundo as antigas crenças indígenas, vivemos exatamente em um momento de Pachakuti, uma era em que o mundo passa por profundas transformações que se manifestam no caos do qual emergirá uma nova ordem . Também segundo essas crenças, após a longa “noite” de 500 anos, inaugurada com a chegada dos europeus ao continente, a nova era será marcada pelo alvorecer de um tempo benéfico e de glória para os povos andinos.

Sobre o mito de Inkarri é interessante a interpretação de Walid Barham Ode em sua obra "Apu Pitusiray – Realismo Mítico – Una Experiencia Inmediata". No capítulo quarto: “O Retorno do Inka” a partir da página 157, o autor trata da “religião andina contemporânea”, o mito do “eterno retorno” (utilizando o conceito trabalhado por Mircea Eliade) e o conceito de “inconsciente coletivo” da psicologia junguiana.

Cada período de tempo, ciclo ou sol se enceraria com um Pachakuti, que corresponderia a um cataclismo cósmico, o universo voltaria a seu estado caótico e desordenado para depois se reordenar e formar outro cosmos ou outro ciclo cósmico.

Existem também diferentes versões sobre o início do atual Pachakuti, para alguns ele teria se iniciado no aniversário de 500 anos da chegada dos espanhóis à América, ou seja, 12 de outubro de 1992, é o caso de James Arévalo Merejildo, em "El Despertar del Puma – Evidencias astronómicas en los Andes". Já para outros, como informações colhidas pelo autor do artigo na região do vale do Vilcanota, próximo a Cuzco, o atual Pachakuti se iniciou quando de um grande alinhamento astronômico dos planetas do sistema solar em agosto de 1999. Para muitos, como o arquiteto peruano Carlos Milla Villena, até o solstício de inverno, em junho de 2009, estaremos no ano 516 do Quinto Sol ou ano 5.516 do “Calendário Aymara”, uma vez que cada era, ou sol, corresponderia a 1.000 anos solares. Um sol, por sua vez, seria composto de duas partes de 500 anos cada, como um “fractal” do dia e da noite, 500 anos seriam de “luz”, enquanto os outros 500 de “trevas”.
O forte apelo de um Pachakuti é claramente percebido, inúmeras são as referências que se pode encontrar, por todos os lados nos países andinos, a esse importante mito. Desde o clamor de sacerdotes quetchuas e aimaras em cerimônias levadas a cabo em antigos centros cerimoniais pré-colombianos, até à propaganda eleitoral de alguns políticos, as alusões ao Pachakuti são notórias.
Na Bolívia, em especial, a massiva presença indígena na população e na cultura do país, aliados às dificuldades econômicas, fortalecem a expectativa e esperança de mudanças, acabando por contribuir efetivamente para que transformações concretas aconteçam no país. Nesse caso, o grande destaque é a recente eleição, inédita, de um presidente de origem indígena, colocando em xeque séculos de domínio de uma elite minoritária de descendência européia. Como se não bastasse o fator étnico, Evo Morales surgiu politicamente como liderança dos plantadores de coca, a sagrada planta andina, tão combatida por ser a matéria prima da cocaína.
Sobre o presidente Evo Morales, trata-se de um erro dizer que ele “criou” a mística de uma “nova era”, um Pachakuti, para legitimar e fortalecer seu governo que declara oficialmente estar realizando uma “Revolução Democrática e Cultural”. Ao invés de causa, o governo de Evo é uma conseqüência do momento pelo qual passa não somente a Bolívia, mas também os demais países andinos, e que é marcado pelo forte anseio por mudanças, por um Pachakuti!
Astuciosamente, o governo de Evo vem utilizando esse elemento cultural, inclusive como estratégia de marketing político, porém, fugindo de possíveis análises críticas e julgamentos políticos sobre a condução do governo boliviano, é inegável o clima de otimismo e um “ar” de mudanças por quase todo o país .

O autor deste artigo estava na cidade de La Paz quando do aniversário de 1 ano de governo de Evo Morales, em janeiro de 2007, e pode presenciar este otimismo manifesto no clima de festa popular tanto durante a celebração oficial quanto depois em muitas ruas da cidade. O apoio a Evo era explícito ao se conversar com a gente e por meio das manchetes e notícias da imprensa paceña. Além de La Paz, o autor também pode testemunhar o apoio popular ao governo e à pessoa de Evo Morales em outras partes da Bolívia em que esteve entre 2007 e 2008, com destaque para a extensa região do altiplano. A oposição, ao contrário, era explícita e bastante hostil na cidade de Santa Cruz de La Sierra, principal foco de oposição ao governo.
Portanto, independente do aspecto político institucional da Bolívia, a cultura tradicional, com todos seus valores, manifestações, cores, cheiros, gostos e sons, vive, sem sombra de dúvida, um ressurgimento. A cultura tradicional, de origem indígena, é valorizada em quase todo o território boliviano e goza até mesmo de apoio oficial.
Atualmente as celebrações e cerimônias anuais dos solstícios e equinócios, com destaque para a festividade do Willkakuti ou “Retorno do Sol”, durante o solstício de inverno, além do forte apelo turístico, se converteram em legítimas manifestações da identidade e cultura indígena, com o apoio oficial e a participação de lideres políticos, até mesmo a do presidente Evo.
Tendo sido por muito tempo proibida de se realizar, ou tendo que se esconder na celebração católica de São João (24 de junho) , o Willkakuti hoje é festejado no complexo arqueológico de Tihuanaco, e os sacerdotes aimaras realizam sua cerimônias e oferendas ao Sol e à Mãe-Terra, prevendo por meio de suas folhas de coca o futuro do país e de seu governante.

Foi inclusive em Tihuanaco que Evo Morales, no início de seu governo, foi empossado cerimonialmente por sacerdotes aimaras, fato semelhante ocorreu ao ex-presidente peruano Alejandro Toledo, que assumiu a presidência do país oficialmente em Lima e ritualisticamente na mundialmente famosa Machu Picchu.

A celebração do Wilkakuti (assim como seu correspondente quetchua, Inti Raymi) no dia de São João, 24 de junho, é mais um exemplo de sincretismo, uma vez que por seu caráter astronômico e solar, as celebrações de Wilkakuti e Inti Raymi eram em tempos pré-hispânicos realizadas, com precisão, no exato dia do solstício de inverno, que freqüentemente ocorre no dia 21 de junho ou às vezes no dia 20. Portanto a data astronômica é três ou quatro dias antes do atual calendário “oficial”.
Da mesma forma que na Bolívia, o anunciar de um novo tempo soa com vigor nos demais países andinos como o Peru e o Equador. O forte apelo de uma nova era também é explorado de diferentes formas nestes países e, algumas vezes, simplesmente não passa de mera propaganda ou marketing político.
Independente desse aspecto, o resgate e valorização das tradições milenares indígenas nos Andes é um fato que muito interessa a toda a humanidade . Isso porque, a trajetória da cultura andina não se constituiu por meio de teorias ou abstrações filosóficas, mas se forjou, na vivência, na experimentação e na prática, em um longo e lento caminhar do ser humano, que já dura milênios, e que sempre se moldou por valores essencialmente ecológicos.

Em sua tenaz luta pela sobrevivência e superação, em uma natureza imponente, generosa e hostil ao mesmo tempo, o ser humano andino nos legou importantes lições como sua ética ecológica; seus princípios de relacionalidade e reciprocidade, presentes na organização solidária do ayllu; sua reverência e respeito à natureza, sua consciência de uma ecologia integral e profunda. Esses exemplos da ancestral cultura andina nos possibilitam olhar para o passado e saber que ali se encontram novos e preciosos ensinamentos para o futuro de toda a espécie humana.



Abstract
La esencia de la tradición cultural en la extensa región de Cordillera de los Andes hay resistido por medio de diversos artificios durante siglos después de la conquista y se queda recientemente en una situación de la valuación y del rescate. Este proceso es ambiguo y dialéctico una vez que se explota hasta como marketing político al mismo tiempo donde reafirma la identidad cultural amerindia y consolida valores universales.

Palabras-llave:
América andina - Resistencia Cultural - Tradiciones Ancestrales Indígenas


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