domingo, 18 de abril de 2010

O EXEMPLO DE UMA CIVILIZAÇÃO SUSTENTÁVEL

Atualmente, o grande desafio mundial é encontrar soluções para o sério desequilibro ambiental do planeta. Nesse contexto, exemplos de sociedades passadas que se formaram, a partir de uma ética ecológica, atingindo altíssimo grau de desenvolvimento tecnológico, econômico, social, cultural e espiritual é bastante pertinente.
O grande avanço obtido pelas antigas civilizações ameríndias, mantendo princípios e uma ética ecológica, revela preciosos ensinamentos.
O Estado indígena sul-americano Tawantinsuyo, também conhecido como ‘Império Inka’, era composto no início do século XVI, por cerca de dez milhões de habitantes, vejamos algumas informações interessantes acerca da última grande cultura autóctone na região andina, os Inkas:
· Teve a fome erradicada e havia estocagem de alimentos suficiente para suprir as demandas de toda a população por décadas!
· Produtividade agrícola altíssima com a utilização de sofisticadas técnicas junto a práticas agrícolas milenares, respeitando o equilíbrio dinâmico e natural, estabelecendo uma atividade permanente e ecológica ( permacultura).
· Nesta sociedade existiam grandes cidades com exímio planejamento urbano, organizadas e com saneamento básico, além de abastecimento de água pura e cristalina.
· As construções eram harmônicas e utilizavam técnicas de bioconstrução (edificação ecológica) e geobiologia (medicina do habitat).
· Havia bem estar social, todo casal recebia condições para seu sustento e para constituir uma família saudável e numerosa.
· Praticamente não havia criminalidade e as casas não possuíam portas para fechá-las; as instituições políticas funcionavam e a corrupção era severamente punida.
· Redes de estradas interligavam milhares de quilômetros e mantinham-se conservadas e operantes em qualquer época do ano.
· E o melhor : tudo isso através de uma relação simbiótica e respeitosa com a natureza e seus ciclos, com um desenvolvimento sustentável e responsável!

ATÉ 500 ANOS ATRÁS ESSA ERA A DESCRIÇÃO E REALIDADE DE UMA GRANDE ÁREA DA AMÉRICA DO SUL!

Esse “mundo de sonhos” desmoronou com a chegada dos europeus e foi não apenas desmembrado como teve sua memória sistematicamente apagada para que outra ordem, baseada na exploração, destruição e desrespeito à natureza fosse implementada.
Na época dos Inkas, a base de todo seu desenvolvimento foi uma série de princípios que compunham uma rede de conhecimentos, a Filosofia Andina ou como define o filósofo suíço Josef Estermann: Pachasofia.
O neologismo quechua/aymara-grego Pachasofia define essa rede de conhecimentos, tecida durante milênios e ainda viva e vigorosa, que pontua as ações e o pensar de seres humanos da região da Cordilheira dos Andes e é marcada por uma ética e valores essencialmente ecológicos.
A palavra Pachasofia é formada por Pacha do quechua/aymara, e significa tanto o tempo quanto o espaço, o cosmos, o universo e o planeta Terra; mais o termo grego sophia, que expressa o “saber” integral a respeito da “realidade”.
A filosofia andina, Pachasofia, possui um caráter essencialmente prático, dado a natureza desafiadora do meio andino, acima de 3.500 metros, com ventos gelados, granizadas, movimentos sísmicos e outras dificuldades para a própria sobrevivência humana, não faz muito sentido um pensamento apenas especulativo e teórico.
Portanto este pensamento teve que ser aplicado na prática e se traduzir em técnica e método.
Fruto da observação sistemática e paciente da natureza, as concepções, valores, saberes, tecnologias e tradições do horizonte cultural andino, refletem a aproximação e simbiose com a Mãe Natureza - PACHA.
E Pacha é os cosmos, a totalidade das coisas que se divide em dois para a manifestação do universo, gerando as polaridades.
O saber andino reconhecia as polaridades e as integrava por meio dos princípios de correspondência, complementaridade e reciprocidade.
Estes princípios interligam os extremos do universo dual: o masculino e o feminino, direito e esquerdo, o Céu e a Terra, o Sol e a Lua, o dia e a noite, quente e frio, chuva e seca, simples e complexo, material e imaterial, teórico e prático, espiritual e terreno, o passado e o futuro, a luz e a sombra.
O profundo conhecimento da natureza em suas manifestações e ciclos foi o princípio norteador do desenvolvimento humano na região andina e um importante legado para a humanidade. Uma sabedoria e ensinamentos que são disponíveis para nós do século XXI.
Não precisamos partir do zero, podemos e devemos tomar as sábias lições do passado e mesclá-las aos avanços e possibilidades da modernidade, criando uma realidade mais harmônica, ecológica e sustentável.