quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

A MORTE NA TRADIÇÃO ANDINA



1. Introdução
Analisar como a grande e antiga cultura andina concebia e relacionava-se com a morte e como essa tradição está mantida e permanece nos dias de hoje são os objetivos deste trabalho.
Essas concepções e ralações são uma parte dessa rica tradição e, como tal, podem ser interpretadas pela cosmovisão e filosofia dos antigos e atuais homens e mulheres andinos. Esses elementos compõe a chamada Pachasofia.
Utilizado pelo filósofo suíço Josef Estermann, o neologismo quechua/ aymara-grego Pachasofia define a gnosiologia ou rede de conhecimentos que expressam a “visão de mundo” – cosmologia – andina.
Buscar informações e pistas em obras literárias (listadas na bibliografia), aliado aos ensinamentos diretos e vivências que recebi em minhas peregrinações pela região, serão as fontes de minha análise.
Dentro da concepção pachasófica existe uma relacionalidade cósmica, da qual, um dos elementos é a complementaridade. Segundo esse princípio, tudo possui seu complemento, onde o complemento da vida é a própria morte.
Assim, estudar a morte na concepção andina é conhecer a vida, saber como se relacionar com esses dois extremos (vida e morte) que se complementam e são inseparáveis, dos quais nós, seres humanos, na qualidade de chakanas (pontes), somos os eixos que manifestam e ligam essas duas realidades.

2. Pachasofia
Assim como inúmeros outros aspectos da antiga (ao mesmo tempo atual) cultura andina, a concepção da morte encontra-se inserida dentro dos preceitos filosóficos que formam a Pachasofia.
A palavra Pachasofia é formada por Pacha do quechua/aymara, e significa tanto o tempo quanto o espaço, o cosmos, o universo e o planeta Terra; mais o termo grego sophia, que expressa o “saber” integral a respeito da “realidade”.
Um princípio fundamental dentro da Pachasofia é a relacionalidade ou “princípio holístico” que afirma que tudo está de alguma forma relacionado (vinculado, conectado) com tudo.
Uma interessante ilustração que representa o universo para a tradição andina, onde percebemos a preocupação com a relacionalidade universal, é o desenho do altar maior do Koricancha, o grande recinto sagrado da Cuzco incaica. Desenhado no século XVII, pelo nativo Juan de Santa Cruz Pachacuti Yamqui Salcamaygua, o altar maior apresenta a forma de uma casa. Como uma representação cosmogônica, esse desenho estabelece o universo – Pacha – como nosso lar, onde tudo está relacionado e encontra-se interligado.
O curioso é que, em grego, o termo oikos significa casa, e é a base para as palavras economia e ecologia. O fato de representar o universo como uma casa demonstra como a concepção andina é naturalista e desenvolveu-se a partir de princípios cuja corroboração está na própria natureza.
A relacionalidade, por sua vez, manifesta-se em princípios secundários que são: a correspondência, complementaridade e reciprocidade.
O princípio de correspondência descreve o tipo de relação que existe entre macro e micro cosmos, o céu e a terra, em cima e em baixo, divino e humano, orgânico e inogârnico, vida e morte.
A complementaridade determina que, para haver a plenitude, um elemento deve possuir seu complemento. Esse princípio encontra-se nos elementos atômicos (elétrons, prótons e nêutrons) e sua manifestação como partícula ou onda; nas trajetórias dos corpos celestes e nos “pares”: Sol e Lua, claro e escuro, masculino e feminino, direita e esquerda.
Os princípios de correspondência e complementaridade podem se representados, esquematicamente por uma cruz que se forma a partir de duas “pontes” – chakanas que se cruzam.
Quando preenchidos com algumas de suas devidas manifestações, os campos de correspondência e complementaridade apresentam-se da seguinte forma:


COMPLEMENTARIDADE: loqe/esquerda/feminino
COMPLEMENTARIDADE: paña/direita/masculino
CORRESPONDÊNCIA: Hanan/alto/céu
CORRESPONDÊNCIA: Urin/baixo/terra


O terceiro princípio, a reciprocidade, é a expressão a nível pragmático e ético da relacionalidade. A reciprocidade estabelece que a cada ato corresponde, como contribuição complementaria, um ato recíproco. Este princípio estabelece o intercâmbio e determina as relações entre pessoas e manifestações religiosas. Trata-se de uma justiça ética, ser justo é uma obrigação para as pessoas andinas.
Outro elemento característico da Pachasofia é sua tripartição do universo, nesse esquema apresentam-se três “mundos” ou dimensões, cada um representado arquetípicamente por um animal ou totem:
• Hanan Pacha - o mundo "superior" ou "de fora", cujo animal é o condor;
• Kay Pacha - "este" mundo, representado pelo puma;
• Uju Pacha - o mundo "subterrâneo" ou "de dentro", seu animal é a serpente.
Neste esquema tripartido, um elemento de vital importância por representar o ponto ou eixo de ligação (por isso mesmo uma chakana) entre os mundos é o Kay Pacha, “este mundo”; onde se encontram os seres humanos vivos que possuem a responsabilidade ética de agirem conforme o princípio de reciprocidade, mantendo a harmonia cósmica ou, dependendo de sua conduta, provocando o desequilíbrio.
“Movendo-se” por essas três dimensões, todos os fenômenos do universo manifestam-se em algum ponto de correspondência e encontram-se representados em ambos os “lados” da complementaridade.
Um exemplo ilustrativo é a água. Esse elemento se manifesta no Hanan Pacha em forma de nuvens (elemento feminino) e ao cair do céu, como chuva, assume uma complementaridade masculina. No Kay Pacha é recebido pelo elemento feminino, a Terra, Pachamama.
Uma vez “neste mundo”, a água é feminina quando encontrada em lagoas (cochas) ou no oceano (mamacocha) e masculina nos rios (mayus).
Para completar o sistema tripartido, a água também adentra ao “inframundo” ou mundo subterrâneo, o Uju Pacha; aí se encontram os veios e canais de água subterrânea (masculino), as nascentes e “olhos d’água (feminino), que emergirão na superfície – Kay Pacha e, quando evaporarem, completar seu ciclo retornando ao mundo superior, Hanan Pacha.
Para a dinâmica e o movimento universal, a Pachasofia estabelece que tudo no cosmos possui um ciclo, no caso da água, a chuva e evaporação proporcionam essa dinâmica. Curiosamente, um fenômeno meteorológico associado ao ciclo da água, o arco-íris (K’uychi), é o símbolo do renascimento, inclusive da reencarnação.
Isso nos remete à situação de morte/vida, que, coerente com a Pachasofia, representa um elemento a mais dentro da rede universal de relações estabelecidas, possui seu ciclo e manifesta-se de diferentes formas.
Assim, como um complemento da vida, manifestando a ciclicidade, encontramos do “outro lado”, a morte.

3. A Morte na Tradição Andina
Serão nos princípios da Pachasofia que encontraremos os fundamentos para uma análise da morte dentro da Tradição Andina. Para isso, buscar-se-á na complementaridade, correspondência e reciprocidade as manifestações da morte.
Todo ser humano chega ao Kay Pacha através do nascimento, que ocupa um dos extremos de uma importante chakana ou “ponte” que é a própria vida desse ser humano. No outro extremo, estabelecendo o complemento e plenitude da vida, está a morte.

Nascimento
Vida
Morte

Porém, pela dinâmica universal, os princípios complementares de nascimento/morte e vida/morte alternam-se em ciclos.
Coerente com essa visão cíclica, o tempo na concepção andina é representado como um círculo, ou melhor, uma espiral, e não como uma linha como o é muitas vezes na tradição ocidental.
Isto determina que, para a Tradição Andina, a morte gera vida, e um fim sempre anuncia o recomeço. Esse processo encontra-se presente no ciclo agrícola, onde o “enterro/morte” das sementes gerará a vida manifesta na planta.
É por isso que antigos povos andinos possuíam o costume de enterrarem seus mortos em posição fetal, muitas vezes dentro de vasos de barro que assumem o papel de útero materno, no caso, da Mãe-Terra (Pachamama).
Belíssima metáfora essa que apresenta o vaso de barro, feito da própria terra, como útero da Pachamama. O corpo humano, matéria feita a partir dos elementos da própria terra, a ela retorna, para completar seu ciclo da mesma forma em que foi gestado: dentro de um útero. A posição fetal enfatiza essa associação nascimento/morte, apresentando-os como fenômenos análogos.
A popular canção andina “Vasija de Barro”, de autoria de Luis A Valencia e Gonzalo Benítez, e que já foi interpretada por diversos artistas, aborda esse tema com extrema beleza e poesia:

VASIJA DE BARRO
Autores: Luis A.Valencia y Gonzalo Benítez.
Yo quiero que a mí me entierrencomo a mis antepasados. En el vientre oscuro y frescoDe una vasija de barro.
Arcilla cocida y dura,alma de verdes collados, barro y sangre de mil hombres,Sol de mis antepasados.
Cuando la vida se pierdatras una cortina de años, vivirán a flor de tiempoamores y desengaños.
De ti nací y a ti vuelvo,arcilla, vaso de barro.Con mi muerte vuelvo a ti,a tu polvo enamorado.



Outro costume funerário dos antigos, que relaciona morte e nascimento, é que o morto era posicionado de maneira que estivesse com a face voltada para o leste, o ponto cardeal que anuncia a vida e nascimento.
Na região do lago Titicaca, encontramos antigas torres funerárias chamadas de chullpas, algumas são circulares e outras quadradas, porém quase todas possuem uma pequena entrada voltada para o nascente.
A forma de algumas dessas chullpas também nos lembra um útero, internamente elas possuem uma câmara que se assemelha a uma semente; é no interior dessa “semente” que era depositado o corpo do morto, em posição fetal, com a fronte voltada para a pequena porta da torre, orientada para o nascente.
Essas evidências apontam para a possibilidade de que os antigos acreditavam na reencarnação, crença bastante difundida e aceita atualmente pela população andina.
Segundo mestre Francisco Miranda – Rumisoncco, sacerdote e guardião da Tradição Andina, a reencarnação é um fundamento da tradição e possui o arco-íris como símbolo.
Importante chakana, que estabelece uma ligação entre o céu e a terra, o arco-íris representa a promessa de vida e o caráter cíclico dos fenômenos universais, é o símbolo da esperança e encontra-se, nos mitos de origem dos povos aymaras, associado ao princípio de vida.
Segundo alguns mitos, foi a partir do raio que se iniciou a vida, com esse fenômeno surgiram dois arco-íris, um masculino e o outro feminino, e daí veio toda a forma de vida, inclusive o ser humano, esse mito encontra-se ilustrado na bandeira de arco-íris conhecida como Wiphala.
Como o complemento do nascimento e da própria vida, a morte é encarada, na tradição andina, com grande naturalidade, um processo que compõe o equilíbrio cósmico.
Tanto nos relatos sobre os antigos, como no comportamento de pessoas hoje em dia, perceber-se essa relação de aceitação da morte como um fenômeno de ordem cósmica e, inclusive, uma superação do medo que esta inspira.
Quando os espanhóis chegaram aos Andes, se impressionaram com as demonstrações de coragem frente à morte por parte dos homens e mulheres.
No episódio da captura do imperador Atahualpa, em Cajamarca, centenas de índios desarmados colocaram-se, como uma barreira humana, entre os espanhóis e o Inca, sacrificando suas vidas tentando proteger o seu senhor.
E por que essas pessoas entregaram suas vidas para a salvação de outra? Para compreender esse ato é preciso analisá-lo de acordo com o princípio pachasófico de reciprocidade.
O princípio de reciprocidade estabelece que cada ato corresponde como contribuição complementaria um ato recíproco. É um princípio universal e rege tanto as inter-relações humanas (entre pessoas e grupos), como extra-humanas: ser humano e natureza ou ser humano e o divino. É uma obrigação ética, sagrada e muito forte ainda hoje na região andina. Um intercâmbio de bens, sentimentos, pessoas e valores religiosos.
Por isso que é muito comum na religiosidade andina a prática do pago ou despacho, uma maneira de restituir à divindade ou entidade transcendental (Pachamama, Apu, Huaca ou ancestral) através de uma oferenda, que é a reciprocidade simbólica e ritual.
Para as pessoas da época do império inca, o imperador, enquanto “Filho do Sol” e divinizado, era um elemento fundamental na manutenção da ordem cósmica, ele era o representante encarnado dessa mesma ordem e a ele deviam obediência, tributos e, caso fosse, a própria vida. Talvez mais que lealdade, tratava-se de um dever cósmico, e sua falta acarretaria o desequilíbrio.
Dentre os deveres de reciprocidade para com o imperador por parte das populações nativas estava a mita, que consistia no pagamento de tributo ao Estado na forma de trabalho em retribuição aos benefícios (segurança e sustento principalmente) proporcionados pelo fato de integrarem o império.
Esse tributo era cobrado pelo Estado inca quando havia a necessidade de mão-de-obra ou de soldados para campanhas militares. Composto por homens adultos de até cerca de cinqüenta anos, o grande contingente de trabalhadores proporcionado pela mita era aproveitado na construção de terraços de plantação, canais de irrigação, estradas, templos, palácios e até cidades inteiras.
Pela natureza da arquitetura e pelos materiais utilizados em suas edificações, as realizações incaicas exigiam grande esforço humano e muitas vezes os operários estavam sujeitos a grandes riscos de vida no canteiro de obras.
É impressionante o tamanho dos blocos de pedra que foram cortados, transportados (muitas vezes por quilômetros), suspensos e encaixados à perfeição pelos antigos trabalhadores indígenas. Além disso, muitas edificações incas encontram-se nas alturas escarpadas das montanhas, na borda de grandes precipícios. Essas realizações que hoje em dia encantam os turistas cobravam um alto preço em vidas humanas. Para realizá-las era necessário, além de determinação, grande coragem ou ausência de medo da morte.
Na região do vale do rio Vilcanota, no Peru, lugar conhecido como Vale Sagrado dos Incas, encontra-se o complexo arqueológico de Ollantaytambo. Na margem oposta ao conjunto de templos, terraços e demais construções incas, encontram-se as pedreiras de onde foram retirados e transportados os enormes blocos de pedra para as edificações.
Neste lugar encontramos muitos blocos que não chegaram a ser transportados até a outra margem do rio, alguns parecem até estar prontos para o transporte, porém, antes que fossem deslocados, o canteiro de obras foi abandonado. Outros blocos gigantes estão espalhados ao longo dos flancos da montanha onde se situa a pedreira até o Vilcanota, algumas dessas grandes pedras também se encontram na mesma margem do complexo arqueológico.
Essas pedras são conhecidas como “Pedras Cansadas” e, segundo algumas lendas, negaram-se a chegar ao seu destino final e para isso “choraram sangue”. Para alguns, esse mito representa uma metáfora, pois o “chorar sangue” das pedras seria, na realidade, um sinal que ali morreram trabalhadores, possivelmente esmagados debaixo do peso de algumas toneladas.
Na própria pedreira encontram-se algumas chullpas, as torres funerárias, que guardavam os restos de trabalhadores mortos ali mesmo. A localização das torres no próprio lugar de morte do operário seria, segundo Mestre Rumisoncco, porque mesmo depois de morto, o defunto continuaria a dar sua contribuição, não mais com seu esforço físico, mas através de proteção e auxílio do “outro” lado.
Isso indica que o princípio de relacionalidade estendia-se além da vida terrena, sendo possível estabelecer relações de reciprocidade entre vivos e mortos.
Tendo como obrigação cósmica “pagar” a reciprocidade (mita) ao imperador e ao Estado, muitos homens se auto-sacrificaram, fossem nos arriscados canteiros de obra ou nos não menos arriscados campos de batalha.
Mas o ato de auto-sacrifício pressupunha também um grande desapego da vida que pode ser explicado pela plena convicção de vida após a morte. Concepção presente nos preceitos religiosos da tradição andina.
A religiosidade e espiritualidade nos Andes são muito acentuadas, compondo um dos traços marcantes da cultura da região. Mesclada às antigas tradições, o catolicismo estabeleceu-se com grande força, impulsionado pela conquista militar e política.
Porém o catolicismo praticando pela gente dos Andes é muito diferente dos dogmas e preceitos da Igreja Romana, apresenta grandes traços de mestiçagem ou sincretismo.
Um desses pontos é a arraigada crença na reencarnação (ciclicidade), outro é a relacionalidade existente entre o “mundo” dos vivos e o dos mortos.
O próprio princípio de reciprocidade não terminava com a morte de uma pessoa, estendia-se mais além, havendo “deveres” estabelecidos por parte tanto dos vivos como dos mortos.
Assim, um familiar morto continua “fazendo favores” a seus entes queridos ou, dependendo do caso, molestando-lhes como um fantasma. A recordação cerimonial na tumba dos pais é um dever recíproco dos filhos. Às “contribuições” dos mortos, deve-se corresponder reciprocamente, mediante rituais, carinho, comida e despachos.
Em seu trabalho sobre a cosmovisão e essência da cultura andina, os pesquisadores bolivianos Manuel Alvarado Quispe – Satiri Waqaychayiri e Mari Mamani Tito – Nina Warawara apresentam curiosos relatos sobre as relações entre vivos e mortos.
Os pesquisadores descrevem um mito andino onde uma mulher visitou a tumba de seu esposo e começou a chorar, reclamando com o falecido sobre as desventuras e ausência dos filhos que haviam partido para a cidade grande.
Em seu desespero, a mulher questionava o marido morto:
- Foi ao menos visitar teus filhos? Preocupa-te porque não estão em casa? A ti nada importa?
Essa noite ao dormir, a mulher sonhou que seu marido chegava em casa, como fazia quando estava vivo, e começou a justificar-se para ela dizendo:
- Porque veio hoje reclamar de tantas coisas? Se eu sempre vou ver meus filhos; um está no quartel, por isso não vem em casa; a outra está na cidade, faz muito tempo que deixou de estudar e se dedica à bebida; eu falo com eles, porém eles não escutam; eu os visito, porém eles não me vêem. Ao te ver também eu vim, enquanto tiverem problemas, eu não posso estar tranqüilo como você diz.
A partir desse dia, a mulher passou a conversar com o espírito de seu esposo como se estivesse com ela, sempre a escutando.
No mundo andino as pessoas não morrem para sempre, seus espíritos estão sempre acompanhando os vivos. Recorre-se aos espíritos dos seres queridos, dialogando com eles, para que tudo vá bem no mundo dos vivos, para se ter um bom trabalho ou boa sorte, acredita-se que eles sempre ajudarão.
Algumas vezes, a ajuda dos espíritos de parentes e amigos mortos vem em forma de sonhos que orientam e advertem os vivos, inclusive para “puxar as orelhas”, caso isso seja necessário.
Desde a época dos incas que no período intermediário entre o equinócio de primavera, em setembro, e o solstício de verão, dezembro, há um mês dedicado aos mortos. Esse período, que curiosamente coincide com o dia de Todos os Santos, é chamado de Aya Marka (lugar dos mortos / ancestrais) e seu ponto máximo é o dia 04 de novembro, embora todo o mês (chamado de mês das almas) seja dedicado aos mortos.
Nesses dias “comemora-se” os entes queridos que já morreram, para eles são preparadas refeições (os pratos que mais gostavam em vida), bebe-se (às vezes muito), realizam-se verdadeiros piqueniques sobre suas tumbas. Conversa-se com os mortos e, ao serem soprados os aromas dos pratos preferidos sobre suas tumbas, os defuntos “chegam”, tendo sua “aparição” confirmada ou pressentida de muitas formas: ruídos, ventos ou algum animal faminto como aves, moscas ou abelhas.
Outro relato presente no trabalho de Manuel e Mari conta que, nas minas de Llallagua, um mineiro, que trabalhava justo nas celebrações da Festa de Todos os Santos, ficou soterrado no interior da mina. Passaram-se vários dias de busca até que, por não encontra-lo, abandonaram a tarefa de resgate e o deram por desaparecido e morto. Os parentes do mineiro prepararam a mesa para seu defunto, rezaram e o choraram, porém, passadas as celebrações, o homem voltou, são e salvo, à sua casa, depois de ter estado por 7 dias sob os escombros da mina.
O assombro de todos foi tal que passaram a chamar o mineiro de “o condenado”. Ele disse a seus parentes e amigos próximos que quando estava preso sob os escombros da mina, sobreviveu nos primeiros dias graças às folhas de coca que mascava. Nos últimos dias, agonizava sem mais nada para comer, até que, justo no dia de Todos os Santos, a comida apareceu como mágica dentro da mina: era a comida que prepararam, em seu altar fúnebre, seus familiares.
O mineiro também disse que só havia voltado para se despedir de sua família e sabia que iria morrer.
De fato, dois dias depois, morre o “condenado”, seus familiares, novamente e com ainda mais devoção, prepararam a mesa para o defunto e assim o fazem todos os anos.
Às vezes, as “faltas” em vida de uma pessoa acarretam conseqüências que devem ser eliminadas ou resolvidas ritualisticamente pelos vivos. Em função de seu grau de desequilíbrio à ordem cósmica causado, a ação de um morto ocasiona malefícios sobre sua família, sua comunidade e, até, em sua pátria (como na época do império pela pessoa do Inca e atualmente os governantes e dirigentes políticos).
É por isso que têm muita importância nos Andes, a misa de alma, onde uma misa é celebrada em memória do morto para restituir suas “falhas” ou lhe pedir “favores”. Pode-se conseguir o mesmo efeito consultando-se um sacerdote quechua ou aymara que realizará um ritual conforme as necessidades, muitas vezes determinado pela “leitura” das folhas de coca.
Inúmeras outras práticas cerimoniais relacionadas aos mortos, de origem pré-hispânica, são, ainda hoje, observadas nos países andinos. Um exemplo acontece na região central do Peru, onde o corpo de um defunto é velado duas vezes, uma no primeiro dia após a morte e, a segunda, cinco dias depois, como uma lembrança da divindade pré-inca Pariacaca, que têm cinco corpos pois nasceu de cinco ovos. Acredita-se que até o quinto dia, o morto pode ainda ressuscitar.
Sobre as reciprocidades acerca do imperador inca, outro impressionante relato deixado pelos espanhóis é que, quando da morte de um imperador, inúmeras pessoas, principalmente as mulheres “escolhidas”, as chamadas acllas ou “Virgens do Sol” (que dedicavam suas vidas ao culto e obrigações religiosas), suicidavam-se ao se atirar de precipícios. O motivo deste auto-sacrifício seria continuar a servir seu senhor na outra vida (seu dever/reciprocidade).
Da mesma forma, encontram-se vestígios e relatos de uma prática muito chocante para as concepções modernas: o sacrifício humano.
Apesar do conflito de informações acerca deste tema na cultura incaica, mesmo porque os relatos dos cronistas espanhóis e índios divergem sobre a existência ou não desta prática entre os incas, várias evidências revelam a realização de oferendas humanas às deidades tanto incas quanto pré-incas.
A descoberta de corpos humanos com claras evidências de terem sidos mortos em santuários e lugares sagrados antigos, assim como a iconografia representando cenas de sacrifício presente em cerâmicas, pedras e tecidos atestam a possibilidade de ocorrência no passado desta prática.
Encontram-se essas evidências em muitas das principais culturas que antecederam os incas: moches, nazcas, pukara, tiwanaku e outras.
Na época dos incas, as crônicas descrevem uma cerimônia chamada Capacocha, onde, após uma longa peregrinação até lugares sagrados (principalmente ao topo das altas montanhas – Apus), crianças eram sacrificadas para restituir a saúde debilitada do imperador ou para aplacar a ira dos deuses, manifesta em épocas de excessivas chuvas ou seca, granizada, erupções de vulcões e terremotos.
Para corroborar esses relatos, foram encontradas inúmeras “múmias” de crianças e pré-adolescentes no alto de grandes e importantes montanhas nevadas ao longo de toda a cordilheira dos Andes. O caso mais notório é o da “Niña Juanita”, encontrada no topo do Vulcão Ampato, próximo a Arequipa no Peru. Atualmente, o impressionante corpo desta menina inca, que deveria ter entre 12 ou 14 anos quando morreu, encontra-se no museu Santuários Andinos, sob custódia da Universidade Católica de Santa Maria em Arequipa.
Preservado pela temperatura e clima no topo nevado do vulcão, o corpo, adornos e demais oferendas deixados no lugar oferecem instigantes pistas sobre a prática do sacrifício humano entre os incas. Através do estudo desses vestígios e pelos relatos dos cronistas antigos, os cientistas buscam recriar os últimos passos de Juanita.
Ela deve ter passado por muitas cerimônias antes de sua morte, realizado uma extensa viagem de seu lugar de origem até Cuzco (a capital imperial), acompanhada de uma grande corte de pessoas importantes. Ela era esperada e foi recebida pelo próprio Inca, o qual transmitiu à menina sua aura divina, assumindo a responsabilidade de sua morte e do contato com as divindades da montanha.
De Cuzco, ela deveria partir em nova jornada até seu lugar de repouso, onde, após festas, rituais e um rigoroso jejum, ela foi morta, no topo da montanha, com um certeiro golpe de massa próximo ao olho direito. No momento de sua morte, Juanita vestia-se com o máximo de elegância e riqueza da época, possivelmente para afirmar sua natureza “divina” e real.
A violência do golpe mortal desferido contra a menina contrasta com o tratamento respeitoso e cerimonial que antecedeu o sacrifício. Isso revela que, antes de ser uma cruel e sádica prática dos antigos, o sacrifício era uma importante manifestação de cunho religioso dos incas onde, através do princípio de reciprocidade, buscava-se, com a máxima oferenda que podiam realizar – a vida humana, aplacar algum mal que ameaçava toda a comunidade ou o país, tanto diretamente como através da pessoa do imperador, o Inca.
Juanita, considerada o melhor corpo pré-hispânico conservado no mundo, foi oferecida aos Apus em torno de 1.466, durante o reinado do Inca Tupac Yupanqui. Nesta época, o Vulcão Sabancaya entrou em erupção e ameaçou destruir todas as plantações ao redor. Além de Juanita, também foram encontradas outras “múmias” de crianças, do mesmo período, tanto no nevado Ampato quanto no Hualca Hualca, ambos vizinhos ao Sabancaya.
Isso nos possibilita afirmar que a morte dessas crianças, dentro do princípio de reciprocidade, foi o preço pago pela vida de milhares de pessoas, tanto das que viviam próximas ao vulcão, quanto das que dependiam das colheitas das plantações ameaçadas.
Convertidas em chakanas, as crianças foram o elo entre o humano e o divino, a vida e a morte.
O que se percebe, portanto, é a relacionalidade entre vida e morte, onde o sacrifício de algumas pessoas garante a vida de muitas outras, uma lógica diferente da moderna e ocidental, porém, coerente com a antiga concepção pachasófica dos incas.
Assim, o sacrifício humano incaico justificar-se-ia por princípios radicalmente coletivistas, onde os interesses do grupo sobrepõem-se ao indivíduo. Para as pessoas nos Andes, a identidade e razão de ser de alguém são definidos pelo grupo ao qual pertence, é por isso que se diz que a célula nuclear das sociedades andinas foi e continua sendo a comunidade, o ayllu.
Essa “lógica” andina pode ser vista nos dias de hoje durante a festa do Tinku, uma celebração anual que se realiza no início do mês de maio, onde as populações de diversos povoados reúnem-se para rezar, beber, dançar e... lutar!
Importante e antiga tradição do altiplano boliviano, essa festividade choca aos espectadores modernos pela violência das brigas entre camponeses de diferentes povoados ou ayllus. De origem pré-colombiana, a festa acontece em uma importante data do calendário agrícola (após a colheita e antes do inverno) e, apesar da violência dos confrontos, é uma forma de prestar homenagem à Pachamama e, através do sincretismo, à cruz que cada comunidade rural guarda como protetora contra os desastres naturais, daí a festa também ser conhecida como Festa das Cruzes.
Paradoxalmente, as lutas entre os camponeses busca a paz, pois, é nas brigas, que acontecem uma vez por ano e sob regras e limites estabelecidos (os árbitros são mulheres solteiras), que se resolvem litígios e disputas de terras entre as comunidades. Nos meses que antecedem a festa ocorre a colheita e se há algum conflito nos limites da lavoura, as pessoas resolvem no Tinku.
Um elemento curioso do Tinku é que quanto mais agressivo e violento for o festival, mais sucesso terá. É fundamental que haja pelo menos um morto nos confrontos, pois seu sangue será oferenda para a Mãe Terra! Caso isso não aconteça, teme-se que ocorram desgraças como terremotos, secas ou tempestades.
Voltando aos antigos incas, outro elemento muito importante no sacrifício humano é que a pessoa que seria morta deveria se oferecer ou ser entregue (no caso dos pais) de livre vontade, um gesto espontâneo que deveria ser movido pelo altruísmo e por um dos principais valores pachasóficos, o amor – munay.
A expressão tukuy munaynioc, pode ser traduzida como “amor incondicional” e deve estar presente nas manifestações religiosas do ser humano andino, é um valor que se aproxima ao princípio cristão de “amor ao próximo”. No caso do sacrifício humano, expressa uma perspectiva radical, presente no cristianismo na ação do próprio Jesus que, segundo a tradição cristã, ofereceu sua vida para a salvação da humanidade. Curiosamente, o Cristo teve morte em uma cruz, justamente a representação simbólica da chakana!
Além do aspecto complementar de vida e morte no sacrifício humano, também encontramos nessa prática o princípio pachasófico de correspondência, já que as crianças que seriam mortas também realizavam uma conexão entre a dimensão humana e divina, elas eram consideradas divinizadas por seu ato e como tal, tratadas.
O princípio de correspondência apresenta-se, na análise sobre a morte, na interação entre os diferentes “mundos” ou dimensões, a ver: Hanan Pacha, Kay Pacha e Uju Pacha.
O exemplo da água ilustra a correlação existente entre “este mundo” e o “de cima”, assim como o “de baixo”, Kay, Hanan e Uju, respectivamente. Através da chuva e evaporação, o elemento água – Unu, realiza seu ciclo e transita continuamente entre os três mundos. Uma importante chakana que simboliza este processo é o arco-íris.
Semelhante processo ocorre com os seres humanos que, quando vivos, habitam o Kay Pacha. Após a morte, seu corpo, a matéria, vai para o Uju Pacha, enquanto seu espírito, liberto da matéria, irá para Hanan Pacha. Segundo a crença da reencarnação, muito forte na região andina, o espírito deverá voltar para o Kay Pacha em outro corpo – matéria, reiniciando o ciclo de complementaridade vida – morte - vida.
De acordo com os ensinamentos de Mestre Francisco Miranda – Rumisoncco, o símbolo do processo de renascimento humano, assim como no ciclo da água, é o arco-íris - K’uychi. Daí a grande importância dada a esta manifestação meteorológica tanto nos dias de hoje como na época dos incas, onde um dos santuários principais do Koricancha de Cuzco era reservado para esta deidade.
Os seres humanos do Kay Pacha, em sua posição intermediária, possuem uma enorme responsabilidade dentro dessa dinâmica, pois são eles, enquanto chakanas, que realizarão a interconexão entre os mundos, principalmente por meio de rituais e celebrações.
Essa concepção permite compreender a íntima relação que a Tradição Andina estabelece com os mortos. Na época dos incas havia a prática de mumificação dos reis, rainhas e principais sacerdotes e guerreiros.
Muitos estudiosos julgaram ver nessa prática uma espécie de culto aos ancestrais, isso não é de todo falso, porém sua abrangência vai mais além.
Chamadas de mallquis (que também significa árvore), as múmias dos ancestrais eram mantidas, por sofisticadas técnicas de conservação, como se estivessem vivas e, para a crença incaica, elas estavam de fato, só que em outro mundo ou dimensão.
Representantes de linhagens ou dinastias reais, as múmias eram vestidas, alimentadas, bebiam, compareciam em rituais e festividades, possuindo uma ativa “vida” social e até política.
O nome de mallquis – árvores para estas múmias é bastante significativo e expressa, assim como os galhos de um mesmo tronco, a filiação ou linhagem – panaca de um grupo a um ancestral comum. Esse ancestral, por sua vez, seria representado pelas raízes. Da base da árvore, sob a terra (Uju Pacha), os ancestrais enviam o espírito para as crianças da família que irão nascer e completar um novo ciclo ao crescer e multiplicar. Como os frutos da árvore, esses novos membros da panaca deixarão sementes que, ao cair na terra, possibilitarão o reinicio do ciclo.
A relação entre os membros de uma mesma panaca e seu ancestral manifestava-se na forma como eram tratadas as múmias, que, em reciprocidade, zelaria e ajudaria seus descendentes.
Estes, por sua vez, além dos devidos cuidados com a múmia, deveriam honrar, através de suas ações, os antepassados. Qualquer infração ou descuido nesta relação traria o desequilíbrio que acarretaria males que só poderiam ser sanados através de uma “restituição” simbólica.
Isso não quer dizer que o espírito ou alma do morto ficasse preso ao seu corpo. O devido lugar do espírito era o mundo superior – Hanan, porém seu corpo - matéria foi um dia morada desse espírito e, como tal, mantinha um vinculo através do princípio de correspondência, que determinava a ordem entre o “de cima” e o “de baixo”.
Segundo Mestre Rumisoncco, o corpo de pessoas ilustres e importantes, grandes guerreiros e sacerdotes, possuíam muita energia que, uma vez livre o espírito, poderia ser aproveitado para benefício dos vivos.
Essas múmias colocadas em santuários e lugares de poder, as Huacas, interagiam energeticamente com os vivos, tanto os seres humanos quanto as outras formas de vida, inclusive as plantas.
É por isso que havia nos santuários e templos próximos às plantações, nichos reservados para as múmias dos ancestrais que, em troca do carinho e oferenda dos vivos, beneficiariam saudáveis cultivos e fartas colheitas.
Ainda hoje, os camponeses andinos invocam, além das deidades antigas, seus ancestrais, para livrar as plantações de granizadas, pragas de insetos, chuvas excessivas e secas. Algumas comunidades possuem guardadas em santuários secretos, principalmente dentro de cavernas (chakanas para o Uju Pacha), as múmias de seus ancestrais.
Durante os tempos antigos, nas guerras que ocorriam entre os diferentes povos e nações, muitas vezes vencia a disputa o grupo que lograsse “capturar” a múmia (até nos campos de batalha elas compareciam) de seu oponente.
Em certas datas festivas, as múmias reais eram luxuosamente vestidas e transportadas, em liteiras, nos ombros dos principais membros da panaca, em procisões que percorriam as ruas da capital imperial. Com a conquista espanhola e posterior queima das múmias dos imperadores, seu posto foi ocupado pelas imagens dos santos católicos que saem de dentro da Catedral de Cuzco e são transportados, da mesma forma, pelos fiéis, isso acontece durante as celebrações do calendário litúrgico, com destaque para a semana santa e festa de Corpus Christi.
Nas cidades maiores, onde as relações familiares e comunitárias cederam lugar a outras formas mais individualizadas, no lugar dos ancestrais, muitas pessoas “utilizam” como intermediários entre os “mundos” aos santos católicos.
Mas em pequenos povoados, comunidades agrárias e ayllus, em essência, pouca coisa mudou em quinhentos anos. Nesses lugares os ancestrais continuam como importantes chakanas e convivem, muitas vezes com mais prestígio, ao lado dos santos da Igreja. Na forma aparente pratica-se o catolicismo, inclusive quando perguntadas sobre sua religião, as pessoas destes lugares respondem que são católicas, mas não realizam nenhuma tarefa agrícola, nem edificam uma construção qualquer, sem a oferenda à Pachamama e aos espíritos ancestrais.

4. Conclusão
Através desta análise da morte na Tradição Andina percebe-se que, apesar de alguns séculos de domínio e influência cultural e religiosa, a concepção e relação do ser humano andino com a morte permaneceu, na sua essência, assim como outros elementos culturais, semelhante aos tempos incaicos.
A morte para o ser humano andino é um elemento a mais dentro da extensa cadeia de relações que são estabelecidas seguindo os princípios enunciados pela Pachasofia.
Segundo esses princípios, tudo está relacionado com tudo. A relacionalidade, por sua vez, manifesta-se nos princípios secundários de correspondência, complementaridade e reciprocidade.
A morte, enquanto concepção cultural, revela-se na complementaridade entre vida e morte; perpassa os três “mundos” através da correspondência; e encontra, no princípio de reciprocidade, suas regras comportamentais e fundamentos éticos.
Por meio destes princípios, todos corroborados pelo próprio funcionamento da natureza, o ser humano andino desenvolveu uma relação mais “natural” com a morte.
A acentuada espiritualidade e religiosidade da gente nos Andes garantem os pressupostos filosóficos e contribuem para essa visão “natural” da morte.
Pelo princípio de complementaridade e através da visão cíclica do tempo e de todas as coisas no universo, o ser humano andino chegou à conclusão que toda vida inicia seu ciclo através do nascimento e o encerra pela morte para, então, reiniciá-lo por meio de um novo nascimento. Assim germinam as sementes, assim caem as chuvas e assim nascem e morrem os homens e mulheres, para lembrar-nos de tudo isso, além de nos emocionar com sua beleza, manifesta-se no céu o arco-íris, o sagrado K’uychi, símbolo da esperança de que a partir de toda morte sempre nasça a vida.

5. Referências Bibliográficas:
· AYALA, Guaman Poma de. Nueva Crónica y Buen Gobierno (Antología). Editorial Horizonte, Lima, 1998
· BERASTAIN, Juan Palao. La Religión del Titikaka – Revelaciones del Yatiri. Editorial Yatiri, Puno- Perú, 2001
· ESTERMANN, Josef. Filosofia Andina – Sabiduria Iniígena Para Un Mundo Mejor. Instituto Superior Ecuménico Andino de Teologia – ISEAT, La Paz – Bolivia, 2006
· KAUFFMANN-DOIG, Federico. Introducción al Peru Antiguo – Una Nueva Perspectiva. Editorial Monterrico S/A, Lima, 1991
· LUCIO, Óscar Colchado. Hacia El Janaq Pacha. Editorial San Marcos, Lima, 2005
· ODE, Walid Barham. Apu Pitusiray – Realismo Mítico, Una Experiência Inmediata. Asociacion Cultural Pumaruna, Calca-Cusco, 2005
· QUISPE, Manuel Alvarado/TITO, Mari Mamani. Chakana – Gênesis de la Vida – Quinto Elemento. Periódico La Prensa, Centro de Integración e Investigación Oral en Historia Andina Paka-Illa, El Alto - Bolívia, maio de 2006
· RIBAS, Ka W. A Ciência Sagrada dos Incas. Editora Madras, São Paulo, No prelo.
· SCORZA, Manuel. Garabombo - O Invisível. Círculo do Livro S.A. São Paulo, s/d
· SCORZA, Manuel. Redoble Por Rancas.Edición 2003, Lima, 2003
· VEGA, Garcilaso de la. Comentarios Reales. Tomos I, II e III, Editorial Mercurio S/A, Lima, 1998
· WAISBARD, Simone. Tiahuanaco - 10.000 Anos de Enigmas Incas. Hemus Editora Ltda, São Paulo 1971
· _______Diccionario Quéchua. Editorial Toribio Anyarin Injante, Lima - Peru, s/d
· _______Exposición Del Gran Inca Eterno – La Tristeza de la Niña “Juanita”. Museo Nacional de Arqueología, Antropología e Historia Del Perú – Museo Santuarios Andinos (Custodia de la Momia “Juanita”), Tókio, 1999
· _______Revista Terra. Editora Peixes, São Paulo, nº 8, Ano 11, agosto de 2003

Nenhum comentário: