Templo das "Manos Cruzadas", em Kotosh, cerca de 5.000 anos de antiguidade. Mãos na posição cruzada são um símbolo na região andina do princípio de reciprocidade - AYNI
Na
dinâmica cíclica da vida, um movimento harmonioso e harmonizador se faz
presente ao se manifestar no balé do equilíbrio entre doação e entrega, dar e
receber.
Tomar e
receber, inspirar e expirar, oferecer e aceitar.
Trocar pode
ser visto como o próprio ato de viver.
Dar e
Receber estabelece um vínculo e conexão que nos interliga a tudo e a todos, a
teia da vida, círculos concêntricos, o campo morfogenético, infinitas
possibilidades de trocas e relações!
Reconhecemos,
honramos e reverenciamos esse movimento realizando a ação recíproca, dar e
receber como um princípio ou fundamento ético. Uma Ordem que tem sua origem no
Amor.
A busca
pelo equilíbrio entre Dar e Receber encontra-se presente em muitas culturas e
tradições, de diferentes povos dos quatro cantos da Mãe Terra.
Na
milenar cultura e tradição andina, esse princípio de reciprocidade é chamado de
AYNI.
Ainda
hoje é um dever ético e uma obrigação para as comunidades tradicionais andinas
e membros dessas comunidades, praticarem o Ayni, a reciprocidade.
Na
desafiadora e extensa região andina, a ajuda mútua, solidariedade e cooperação,
“hoje eu lhe ajudo, amanhã serei ajudado”, a força e capacidade de realização
do coletivo, foram essenciais para o desenvolvimento de grandiosas civilizações
que se levantaram e prosperaram, mesmo nas condições mais adversas. Desde os primórdios das primeiras civilizações andinas, tão antigo
quanto o princípio do Ayni, surgiu na região Andina o AYLLU, que é o conceito
de comunidade, povo, tribo e clã. A forte identidade coletiva se sobrepõe à individual,
o sujeito encontra significado, sentido e realização no grupo, no sistema ao
qual ele pertence.
E não
apenas se estabelece o vínculo e o ato da troca com os outros seres humanos, mas
também com os demais seres e dimensões, de qualquer tempo e espaço. Nos Andes,
ainda hoje, as pessoas se relacionam com as Montanhas, os Rios, as Nuvens, o
Vento, as Águas. Assim como a Terra, a Semente, o cultivo e o cuidado que nos
dá o alimento e a fartura. As forças da natureza e a sabedoria dos ancestrais. Todos
emparentados compondo um gigantesco Ayllu.
A
continuidade do princípio de reciprocidade perpassou sucessivas civilizações,
culturas e povos no decorrer de milênios na América do Sul. Na época do
encontro com o universo ocidental cristão, com os homens da Europa medieval/renascentista, a região andina vivia o apogeu da civilização inka.
Mas
muito antes do que os inkas, a se perder na noite dos tempos, esse princípio já
era respeitado e seguido. Em construções sagradas de mais de 5.000 anos de
antiguidade encontram-se referências e evidências da prática do Ayni.
Pelo
Ayni se reconhece a precedência e grandeza das forças da natureza que são
reverenciadas e recebem o que lhes é de direito que pode ser expresso por meio
de uma oferenda ritual, uma retribuição no âmbito do invisível, entregando a
essas forças uma representação simbólica do mundo, que celebrem e invoquem a
fertilidade, saúde e bem estar, que tragam a força da própria vida!
A
prática do Ayni nos proporciona a oportunidade de contribuir com a manutenção e
a ordem de todos os sistemas ao qual pertencemos. Seja o nosso corpo, nossa
família, a comunidade, a nação, a humanidade, o planeta e o cosmos.
O sentimento
do Ayni é a gratidão, oferta-se reconhecendo que é uma retribuição de
agradecimento pelo o que já foi entregue. O agradecimento contempla a saúde,
fertilidade, chuvas, colheita, prosperidade, abundância e a própria vida.
Quando
este princípio é rompido ou transgredido, o desequilíbrio se faz presente e
manifesta desordem, transtorno e enfermidades. Para reequilibrar o sistema é
necessário a reconciliação, incluindo o que foi esquecido ou desprezado,
reconhecendo e reverenciado o que é maior e veio primeiro.
Para a
tradição andina, quem vieram primeiro foram as montanhas, os lagos e o oceano,
as nuvens e as águas primordiais, o Sol, a Lua e as estrelas, avós e avôs de
tempos imemoriais, ancestrais de outros tempos e mundos. Todo o cosmos, a
Pachamama.
A eles
se roga e se oferenda para que haja o Ayni, para que se tenha uma vida
equilibrada e próspera, a eles se entrega para que se receba!
Incluindo
os diversos mundos, reinos e dimensões o princípio que estabelece o fundamento
das infinidades possibilidades de relações é o Ayni, a reciprocidade.
É o
mesmo princípio que vemos nos povos nativos do norte, que seguem a Boa Estrada
Vermelha, quando ofertam um pouco de tabaco, por um rezo, uma dádiva, uma vida,
expressando Mitakuye Oyasin - todos
somos parentes, em todas as nossas relações.
Reconhecendo que este é um princípio e ordem universal, podemos aplicar esse ensinamento por meio de um comportamento recíproco, buscando reconhecer e honrar a troca e a dinâmica de dar e receber em todas as nossas relações. Assim, por meio do Ayni, a vida torna-se harmônica, bela e equilibrada, alcançamos o Sumaq ou Allin Kawsay, uma “Vida Bela e Boa”.
Reconhecendo que este é um princípio e ordem universal, podemos aplicar esse ensinamento por meio de um comportamento recíproco, buscando reconhecer e honrar a troca e a dinâmica de dar e receber em todas as nossas relações. Assim, por meio do Ayni, a vida torna-se harmônica, bela e equilibrada, alcançamos o Sumaq ou Allin Kawsay, uma “Vida Bela e Boa”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário